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Publicada em 20/09/2019 às 14:03 | Atualizada em 20/09/2019 às 22:13

Fernanda Montenegro faz reflexão sobre o marido, único homem de sua vida: - Não apareceu ninguém melhor

A atriz foi casada com Fernando Torres, morto em 2008

Da Redação

Divulgação-TV Globo

Fernanda Montenegro lançou nesta sexta-feira, dia 20, o seu livro de memórias, chamado Prólogo, ato e epílogo. O lançamento, inclusive, tem movimentado a agenda da atriz, que já descartou qualquer tipo de comemoração exuberante em seu aniversário, comemorado no dia 16 de outubro.

Festança de 90? Não. Quero ficar quietinha. Um almoço com a família e está bom. No dia seguinte, já passou, confessou Fernanda, em entrevista ao jornal O Globo.

A artista dedica o livro aos filhos, Fernanda e Claudio, e aos três netos, Joaquim, Davi e Antônio. O desejo de Fernanda é que eles saibam os detalhes de suas origens.

É um relato de sentimentos, não há pretensões literárias. Já tenho quatro biografias de primeiríssima.

Mesmo sem o foco literário, o processo da obra foi trabalhoso; o livro é a junção de 18 entrevistas, realizadas em dois anos, com a escritora e jornalista Marta Góes. Fernanda, claro, foi a grande estrela da narrativa, já que ditou a sequência dos fatos e a importância dos acontecimentos. Ela também mescla a sua história particular com um panorama da arte brasileira através dos anos - tudo isso para celebrar os seus mais de 70 anos de carreira.

Marta foi fundamental. Foram 18 entrevistas muito próprias. Contei a ela um pouco mais do que há 70, 75 anos venho narrando quando me entrevistam. Busquei ao máximo o que eu podia lembrar, mas dentro de um esquema. Me protegendo. Foi complicado, difícil, muita coisa ficou de fora. Não é tanto o fato de ficção ou de literatura, é uma memória vivida. Foram 21 meses exaustivos e comoventes, porque a maioria das pessoas já foi embora. Quando você faz um trabalho sobre a memória, tem uma melancolia dentro. No fundo, não deixa de ser como uma posição de adeus.

Fernanda ainda confessou que ama interpretar vilãs nas novelas

Porque o grande papel de novela é a malvada. Quem nem em histórias infantis, as bruxas, as madrastas. O jogo das cafetinas ou das pestes das novelas do ponto de vista dramatúrgico é muito rico. A maldade é que joga a ação, porque a bondade já está estabelecida e não é doente. Precisa a maldade trazer as camadas para a bondade sair de seu sossego.

E relembrou o beijo que trocou com Nathalia Timberg em Babilônia, novela de 2015.

Teve um barulho enorme para um beijinho carinhoso de duas mulheres casadas há 40, anos, lutando para ter um documento oficial e aceitação social. Dentro da dramaturgia, fazia sentido, porque se beijam há 40 anos. Não era chupão de trepada. Era uma benção da união de duas mulheres. Não esperava aquela reação. Os homens foram os primeiros a ter o direito de se relacionar com outro homem, com beijos em final de novela. As meninas também, sempre muito bonitas e jovens, sedutoras. Todo mundo aceitou, veio vindo devagar, ótimo. Mas eu e Nathalia tínhamos mais de 80 anos, aí... No entanto, acredito que abrimos um caminho. Se duas atrizes de idade se beijassem hoje, acho que seria mais aceito.

A atriz ainda fez uma reflexão sobre o marido, Fernando Torres, morto em 2008.

Não apareceu ninguém melhor do que ele e, pra ele, acho que talvez não tenha aparecido ninguém melhor que eu (risos). Se tivesse acontecido, por que não? Convivi com muitos homens maravilhosos e sedutores, mas não eram melhores do que ele no campo do embate humano diário, no socorro, na particularidade. Era ombro a ombro.

E falou sobre a vida sem ele.

Não sei te falar, porque sem demagogia, ou pieguice, ele continua comigo. Em casa, são os mesmos móveis. Foi uma despedida na paz e, quanto mais na paz, mais dolorosa é, porque parte da sua paz vai embora.

Fernanda admitiu que é difícil envelhecer e assistir à morte de tantas pessoas queridas.

Ah, minha filha (a voz embarga)... Sim. Viver custa ver a vida dos teus amigos arrancada do seu convívio e memória. Hoje eu entendo porque velho repete sempre as mesmas coisas. É o tormento conversar com um ser humano que não viveu aquilo que tanto repito. Porque basta dizer Dulcina e ele sabe quem é. Não preciso ficar contando, enchendo o saco da pessoa mais nova. Essa falha, a falta da viagem junto à memória não se transfere. Eu estava fazendo o livro e me morre Antunes (Filho, diretor), que era da minha idade. Passamos a ser amigos em 1954!

E que acaba tendo pouco tempo para conviver com os netos.

- Tenho pouco tempo para eles. Mas respeito muito os meus filhos. À minha frente estão eles com os filhos deles, depois venho eu. Uma história engraçada é que os filhos da Fernanda (conhecida por ser disciplinada com a alimentação) iam a um restaurante na Zona Sul e, na saída, roubavam balas de um pacotaço que ficava ali. Ela deve estar sabendo disso, porque escondiam debaixo da cama...

Mesmo com um vasto currículo, a atriz afirma que não pretende parar de trabalhar.

- Não sei como é a vida sem trabalho, me daria a sensação de um desgaste físico, psíquico, não sei como é que é ficar parada. Nem quero.

E fez um desabafo sobre a morte.

Eu tenho muita saudade. O dia em que eu me for, vou ter uma brutal saudade de tudo, dos anos que eu vivi aqui. Como é que é lá? Tem o famoso trecho de Ser ou não ser, do nosso bardo maior... E se lá for pior do que aqui? Ou se lá não tiver nada?. As religiões dizem que lá é melhor, então, a gente espera algo. Mas, a princípio, o que a gente tem na hora de ir embora? A memória dessa vida. Dá pena. É interessante. Não sei, de alguma maneira virá. Eu vivo já num adeus, sem demagogia, que é para me habituar. A gente precisa ensaiar o personagem, não precisa? Eu ensaio a personagem que se chama despedida. Mas não estou ainda no ensaio geral.

 A seguir, relembre a trajetória de Fernanda Montenegro:


Fernanda ainda fez uma rápida aparição na novela A Dona do Pedaço, de 2019, em que interpretou Dulce, a matriarca da família Ramirez e avó da protagonista Maria da Paz, vivida por Juliana Paes.

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Fernanda Montenegro faz reflexão sobre o marido, único homem de sua vida: <I>- Não apareceu ninguém melhor</I>

Fernanda Montenegro faz reflexão sobre o marido, único homem de sua vida: - Não apareceu ninguém melhor

A atriz foi casada com Fernando Torres, morto em 2008

20/Set/2019

Da Redação

Fernanda Montenegro lançou nesta sexta-feira, dia 20, o seu livro de memórias, chamado Prólogo, ato e epílogo. O lançamento, inclusive, tem movimentado a agenda da atriz, que já descartou qualquer tipo de comemoração exuberante em seu aniversário, comemorado no dia 16 de outubro.

Festança de 90? Não. Quero ficar quietinha. Um almoço com a família e está bom. No dia seguinte, já passou, confessou Fernanda, em entrevista ao jornal O Globo.

A artista dedica o livro aos filhos, Fernanda e Claudio, e aos três netos, Joaquim, Davi e Antônio. O desejo de Fernanda é que eles saibam os detalhes de suas origens.

É um relato de sentimentos, não há pretensões literárias. Já tenho quatro biografias de primeiríssima.

Mesmo sem o foco literário, o processo da obra foi trabalhoso; o livro é a junção de 18 entrevistas, realizadas em dois anos, com a escritora e jornalista Marta Góes. Fernanda, claro, foi a grande estrela da narrativa, já que ditou a sequência dos fatos e a importância dos acontecimentos. Ela também mescla a sua história particular com um panorama da arte brasileira através dos anos - tudo isso para celebrar os seus mais de 70 anos de carreira.

Marta foi fundamental. Foram 18 entrevistas muito próprias. Contei a ela um pouco mais do que há 70, 75 anos venho narrando quando me entrevistam. Busquei ao máximo o que eu podia lembrar, mas dentro de um esquema. Me protegendo. Foi complicado, difícil, muita coisa ficou de fora. Não é tanto o fato de ficção ou de literatura, é uma memória vivida. Foram 21 meses exaustivos e comoventes, porque a maioria das pessoas já foi embora. Quando você faz um trabalho sobre a memória, tem uma melancolia dentro. No fundo, não deixa de ser como uma posição de adeus.

Fernanda ainda confessou que ama interpretar vilãs nas novelas

Porque o grande papel de novela é a malvada. Quem nem em histórias infantis, as bruxas, as madrastas. O jogo das cafetinas ou das pestes das novelas do ponto de vista dramatúrgico é muito rico. A maldade é que joga a ação, porque a bondade já está estabelecida e não é doente. Precisa a maldade trazer as camadas para a bondade sair de seu sossego.

E relembrou o beijo que trocou com Nathalia Timberg em Babilônia, novela de 2015.

Teve um barulho enorme para um beijinho carinhoso de duas mulheres casadas há 40, anos, lutando para ter um documento oficial e aceitação social. Dentro da dramaturgia, fazia sentido, porque se beijam há 40 anos. Não era chupão de trepada. Era uma benção da união de duas mulheres. Não esperava aquela reação. Os homens foram os primeiros a ter o direito de se relacionar com outro homem, com beijos em final de novela. As meninas também, sempre muito bonitas e jovens, sedutoras. Todo mundo aceitou, veio vindo devagar, ótimo. Mas eu e Nathalia tínhamos mais de 80 anos, aí... No entanto, acredito que abrimos um caminho. Se duas atrizes de idade se beijassem hoje, acho que seria mais aceito.

A atriz ainda fez uma reflexão sobre o marido, Fernando Torres, morto em 2008.

Não apareceu ninguém melhor do que ele e, pra ele, acho que talvez não tenha aparecido ninguém melhor que eu (risos). Se tivesse acontecido, por que não? Convivi com muitos homens maravilhosos e sedutores, mas não eram melhores do que ele no campo do embate humano diário, no socorro, na particularidade. Era ombro a ombro.

E falou sobre a vida sem ele.

Não sei te falar, porque sem demagogia, ou pieguice, ele continua comigo. Em casa, são os mesmos móveis. Foi uma despedida na paz e, quanto mais na paz, mais dolorosa é, porque parte da sua paz vai embora.

Fernanda admitiu que é difícil envelhecer e assistir à morte de tantas pessoas queridas.

Ah, minha filha (a voz embarga)... Sim. Viver custa ver a vida dos teus amigos arrancada do seu convívio e memória. Hoje eu entendo porque velho repete sempre as mesmas coisas. É o tormento conversar com um ser humano que não viveu aquilo que tanto repito. Porque basta dizer Dulcina e ele sabe quem é. Não preciso ficar contando, enchendo o saco da pessoa mais nova. Essa falha, a falta da viagem junto à memória não se transfere. Eu estava fazendo o livro e me morre Antunes (Filho, diretor), que era da minha idade. Passamos a ser amigos em 1954!

E que acaba tendo pouco tempo para conviver com os netos.

- Tenho pouco tempo para eles. Mas respeito muito os meus filhos. À minha frente estão eles com os filhos deles, depois venho eu. Uma história engraçada é que os filhos da Fernanda (conhecida por ser disciplinada com a alimentação) iam a um restaurante na Zona Sul e, na saída, roubavam balas de um pacotaço que ficava ali. Ela deve estar sabendo disso, porque escondiam debaixo da cama...

Mesmo com um vasto currículo, a atriz afirma que não pretende parar de trabalhar.

- Não sei como é a vida sem trabalho, me daria a sensação de um desgaste físico, psíquico, não sei como é que é ficar parada. Nem quero.

E fez um desabafo sobre a morte.

Eu tenho muita saudade. O dia em que eu me for, vou ter uma brutal saudade de tudo, dos anos que eu vivi aqui. Como é que é lá? Tem o famoso trecho de Ser ou não ser, do nosso bardo maior... E se lá for pior do que aqui? Ou se lá não tiver nada?. As religiões dizem que lá é melhor, então, a gente espera algo. Mas, a princípio, o que a gente tem na hora de ir embora? A memória dessa vida. Dá pena. É interessante. Não sei, de alguma maneira virá. Eu vivo já num adeus, sem demagogia, que é para me habituar. A gente precisa ensaiar o personagem, não precisa? Eu ensaio a personagem que se chama despedida. Mas não estou ainda no ensaio geral.

 A seguir, relembre a trajetória de Fernanda Montenegro: