Quem curte teledramaturgia provavelmente ficou feliz da vida quando soube que a novela A Favorita voltaria para as telinhas da TV Globo. Mas, convenhamos, ao chegar perto do final da trama, alguns pontos começam a martelar na nossa cabeça. Coisas que a gente não consegue entender nem enchendo o Maracanã com telespectadores para rever os capítulos. Que um exemplo? Qual a distância entre Triunfo e São Paulo? Na verdade, o problema não é só a distância entre uma cidade e a outra, mas o que acontece em São Paulo e o que se passa em Triunfo que, em tese, não passa de uma vila industrial. Pois bem, o percurso ao qual Gonçalo Fontini - que Deus o tenha - precisa de um helicóptero para fazer, Lara executava entre uma cena e outra. Tiveram vezes da mocinha sair da faculdade quando o almoço começava a ser servido no rancho e chegar a tempo de provar a entrada.

Quando Donatela, em tese, partiu dessa para uma muito melhor, descobriu-se que ela deixou uma pequena fortuna de herança para Lara, a nada modesta quantia de 22 milhões de dólares que a filha, aliás, nem encostou. Peraí, se o dinheiro ficou lá, intacto, rendendo até uns jurinhos, como que ninguém lembrou de fazer um saque para salvar a Fontini, que estava ameaçada de falir até os capítulos finais? Fala sério, foi muito pão-durismo da parte dela!

Mariana engravidou logo no começo da novela, teve uma das gestações mais longas da história da teledramaturgia e Úrsula, enfim, nasceu. Em compensação, o pai da menininha, até agora, nem deu as caras. Tudo bem que a mãe de Mariana, Catarina, e o atual namorado, Shiva Lênin, não estão nada preocupados em descobrir a paternidade da criança - mas nós estamos!

Agora a questão é matemática, vamos lá! Zé Bob é jornalista, e jornalista por tradição - salvo raras exceções nas quais o profissional não se inclui - não fica rico. Até os 45 do segundo tempo ele levava a vidinha dele numa quitinete e se locomovia com um carrinho popular que nos classificados figura no fim da lista dos usados, valendo no máximo uns 15 mil reais, o que não desperta suspeitas. De repente, não mais que de repente, sem ter assaltado nenhum banco, ele entra em cena com um carro utilitário importado, cuja versão mais barata não sai por menos de 65 mil reais.

A não ser que a mansão de Dodi tenha desaparecido do planeta com a fortuna deixada por Donatela, também não temos resposta para essa questão. Depois de arrancar uma pequena fortuna de Flora, o finado vilão - que Deus o tenha também - comprou a mansão, no nome de Manu, e para lá foi com toda família. Aí ele precisou fugir, depois casou com Flora, e pouco antes de ser assassinado estava com uma mão na frente e outra atrás e, para piorar, sem ter para onde ir. Manu, por sua vez, foi presa injustamente e nem teve a ideia de vender a casa para pagar um advogado... resultado? Acabou esquecida na prisão.

Pense rápido: você conhece o filho da sua melhor amiga, mesmo que tenho visto uma única vez, no dia em que nasceu? Pois bem, Donatela, acredite se quiser, não conheceu o filho adotivo da melhor amiga, que fazia suas unhas toda semana e chegou a hospedá-la na casa em que morava com o menino. Demorou mais de 20 anos para Donatela ver Halley pela primeira vez!

Lá no começo da novela, mas bem no começo, Lara era descrita como uma jovem engajada, dedicada aos estudos. Na época, só naquela época, aliás, várias de suas cenas eram gravadas nos corredores da universidade. Oito meses se passaram e o gráfico de presença da menina caiu assustadoramente. Ela tinha tempo para tudo, ficar na cama com Cassiano, ficar na cama com Halley, ficar na cama com Cassiano de novo, correr atrás de Flora, correr atrás de Donatela, correr atrás de Flora mais uma vez, trabalhar com Zé Bob em investigações, trabalhar com a avó na Fontini, trabalhar com Zé Bob em outras investigações, mas não sobravam 50 minutos para assistir à uma aulinha. O impressionante é que nem assim ela foi reprovada, que exemplo...

Vamos puxar a ficha de Flora, deixando de lado os pequenos delitos como o batom que roubou na adolescência e focando apenas nos assassinatos. Primeiro foi Marcelo, depois Salvatores, em seguida veio Maíra, na sequência Gonçalo e, por último, pelo menos por enquanto, Dodi. Ok, a questão é que na novela ninguém lembra mais da Maíra, até Flora esqueceu de confessar a morte dela entre seus crimes. Será que é só porque logo em seguida ela iria reencarnar em Caminho das Índias como Maya e ocupar o horário de A Favorita na grade da emissora?

Experimente perguntar para Andy Sachs, de O Diabo veste Prada, qual era seu maior sonho quando trabalhava na Runway. Com certeza a resposta seria: não ter que cumprir os prazos e não ser cobrada pela editora. Ou seja, seu emprego dos sonhos está no Jornal O Paulistano. Vejam Zé Bob: ele não cumpre prazo algum, até mesmo porque nunca está na redação, e Tuca, a editora, é mero acessório de decoração, porque ele nunca faz o que ela manda, sinal que ela precisa tomar aulas com Miranda urgente.

Está certo que ele mesmo já deu um jeito de colocar um ponto final na carreira, mas bem que ele teve seus 15 minutinhos de fama - pelo menos é o que dizem. Antes de jogar tudo para o alto, Cassiano era tido como a grande promessa da música sertaneja... Mas como isso é possível se o único show que o coitadinho fez depois de assinar contrato com uma gravadora foi no chá de bebê de Céu? Aliás, tempo livre era o que ele mais tinha, e nem nesses horários aparecia uma fã pedindo autógrafo.