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Publicada em 02/07/2021 às 00:04 | Atualizada em 01/07/2021 às 17:43

Cineasta brasileira, Fernanda Schein dá detalhes sobre seu novo trabalho na Netflix e aconselha mulheres que desejam trabalhar na área: Vai sem medo!

A profissional, de 29 anos de idade, já até mesmo ganhou prêmio nos Estados Unidos

Luiza Aloi

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Fernanda Schein nasceu no interior do Rio Grande do Sul e, atualmente, vive em Los Angeles nos Estados Unidos. Cineasta, ela, que tem 29 anos de idade, já foi premiada com o curta The Boy in The Mirror no California Women's Film Festival e recentemente trabalhou em uma nova produção da Netflix! Nada mal esse currículo, não é mesmo?

Em conversa com o ESTRELANDO, a fã número um de Christopher Nolan contou detalhes sobre sua trajetória, revelou suas motivações para se mudar para outro país e, de quebra, ainda mandou um recado bem especial para as mulheres que desejam ingressar na área de cinema. A seguir, você confere a entrevista na íntegra!

ESTRELANDO - Você menciona Steven Spielberg e Christopher Nolan como grandes inspirações. Há algum filme em específico que acendeu uma luz dentro de você para querer seguir carreira?

Fernanda Schein: A minha infância foi muito marcada por filmes clássicos, minha avó incentivava muito essa paixão. Lembro que ela tinha uma coleção enorme de VHS com vários clássicos, e eu era apaixonada pela Noviça Rebelde, Cantando na Chuva e O Mágico de Oz. À medida que fui crescendo, fui gostando cada vez mais de histórias de fantasia, li todos os livros do Harry Potter e do Senhor dos Anéis, e assisti a maioria dos filmes do Spielberg. O primeiro que eu vi foi ET [E.T.: O Extraterrestre], lembro de pegar o VHS na vídeo locadora, e depois disse fazer visitas à locadora todos finais de semana para trocar uma fita por outra... Eu amava Indiana Jones e Jurassic Park também. Christopher Nolan eu descobri mais tarde, lembro de estar no primeiro ano da faculdade quando fui ao cinema ver A Origem e fiquei alucinada... O Nolan mexe muito com o psicológico da gente. Quando Interestelar lançou, eu trabalhava numa produtora em Porto Alegre e recebi convite para a pré-estreia no cinema. Lembro que quase não dormi naquela noite de tão louca que aquele filme me deixou. Eu amo como o Nolan e Spielberg de formas diferentes, tem uma história de tentar levar os efeitos especiais ao extremo para completar a narrativa. Apesar de eu não ser uma artista de efeitos especiais, eu acho muito legal a parceria entre eles e o montador. No longa chinês que montei, Prime Angel, eu vivi bem isso e foi incrível.

ESTRELANDO - Por ser brasileira, mulher, ter 29 anos de idade e já ter sido premiada, você se sente pressionada de alguma forma por fazer parte dessa área do cinema?

FS: Não, de forma alguma, pelo contrário, eu me sinto muito motivada. O meu curta-metragem premiado foi um trabalho que eu coloquei muito amor, e que criei uma relação de amizade muito forte com a equipe, Acho que esse foi um dos motivos que a resposta da audiência foi tão boa, o entrosamento dos atores com a história era visível, e a equipe toda se esforçou muito pra fazer o máximo de resultado dentro de uma verba super limitada. Eu percebi que a gente não precisa de uma super produção ou de um orçamento enorme para fazer um filme, a gente produzir com os recursos que tem, e ainda assim conquistar espaço. Eu tô começando a pré-produzir meu primeiro longa, com muitas pessoas da equipe do meu curta, e apesar da gente ainda não ter levantado orçamento nenhum, já conseguimos várias parcerias e permutas. Com paciência, determinação e amor pelo que a gente faz, sempre dá pra tirar os projetos do chão. Principalmente se você criar amizades dentro da indústria e também apoiar os projetos dessas pessoas, existe uma troca muito legal.

ESTRELANDO - De certa forma, você já sofreu algum tipo de preconceito?

FS: A única situação em que ouvi algum comentário atravessado foi uma vez que uma produtora enviou um Uber para me buscar e o motorista perguntou da onde eu era, porque ficou curioso com sotaque. Ele perguntou se eu era turista. Quando falei que estava lá a trabalho, ele comentou que era por isso que os jovens americanos tinham dificuldade de conseguir emprego, porque as pessoas vinham de fora e tiravam as oportunidades deles. Eu respondi que sentia muito que ele pensasse dessa forma, mas que nunca tinha ouvido isso de nenhum colega ou empregador americano, que sempre fui muito bem recebida. E isso é verdade, em situações de trabalho, graças a Deus não vivi nada traumático em relação a isso. Sempre tive a sorte de trabalhar com equipes muito diversificadas, com pessoas de diversas nacionalidades, muito diferentes umas das outras. Essa é uma das minhas partes preferidas do cinema independente, é uma comunidade que ajuda a gente a abrir muito os olhos para a histórias de outras pessoas. Eu cresci no interior do Rio Grande do Sul, e sinto que nos últimos anos eu tive oportunidade de conhecer histórias e realidades através de outras pessoas que antes eu tinha pouco conhecimento. Assistir filmes já abre a nossa mente, estar por trás da concepção dessas histórias então, nem se fala, porque o resultado final acaba sendo um encontro da experiência de dezenas de pessoas diferentes.

ESTRELANDO - Qual você diria que foi sua principal motivação para se mudar para os Estados Unidos?

FS: A cultura americana, principalmente a indústria do entretenimento, é muito divulgada no mundo todo. Eu cresci assistindo à Disney e assistindo ao Oscar todos os anos, e acho que inconscientemente fui me impregnando com essa vontade de participar desse meio. Mas quando eu saí do Brasil, eu não tinha noção que seria uma coisa definitiva. Eu fui pra estudar cinema, e tive a oportunidade de ficar lá em função dos prêmios do meu curta, e foi um sonho realizado. Mas eu sinto muitas saudades do Brasil, e eu convivo muito com a comunidade brasileira e latina de Los Angeles. É engraçado, mas eu redescobri minha própria cultura quando fui fazer parte de outra. Hábitos do nosso dia a dia que a gente não repara, ficam em evidência quando você vai pra outro país e você passa a valorizar mais certos traços culturais. Quando eu tenho oportunidades de, como agora, trabalhar em projetos brasileiros eu também me realizo, porque consigo matar um pouco dessa saudade. O meu namorado é brasileiro, e na nossa casa em LA sempre tem feijão, churrasco, pão de queijo, brigadeiro, caipirinha e muita música brasileira. Os nossos amigos americanos amam! E a gente também. Eu amo poder chegar em casa e falar português.

ESTRELANDO - Você trabalhou em um novo filme da Netflix... como não pode revelar ainda nenhum spoiler, tem algo curioso de bastidores - que você ainda não tenha revelado? Ou algo interessante de como esse trabalho é diferente dos outros?

FS: A parte mais legal desse projeto foi poder prestar assistência à editores com muito tempo de mercado, com muito mais experiência que eu e que me deram uma oportunidade incrível de aprendizagem. Essa foi a parte mais legal do trabalho, ver pessoas que estão há 20, 30 anos trabalhando e ainda amam o que fazem é uma motivação muito grande pra quem, como eu, ainda está no início da carreira.

ESTRELANDO - Até hoje, qual foi o seu maior desafio em sua carreira? Tem algum diretor(a) com quem você sonha em trabalhar?

FS: Um dos projetos mais desafiadores que fiz foi o longa-metragem chinês Prime Angel. Além de ter sido o primeiro longa que eu assinei a montagem, e isso só já foi um desafio porque eu ainda não tinha um processo para seguir, eu precisei ir descobrindo meu processo ao longo do trabalho... O filme é todo em mandarim! Eu recebi o roteiro traduzido e fiz diversas reuniões com a diretora para demarcar o início e o fim dos diálogos mais complexos, mas foi muito difícil em alguns momentos. O filme é de ação, então o foco realmente era nas lutas e nas sequências de artes marciais. Mas para as cenas de diálogo eu precisei aprender pelo menos um básico de mandarim, e foi muito difícil, mas muito legal. O mercado de filmes chineses tá crescendo muito, mesmo as produções feitas nos EUA. Então acho que foi um esforço que ainda vai render mais frutos, tenho a sensação que esse filme não vai ser o único projeto em chinês que vou fazer... E sobre diretores que sonho trabalhar, acho que as mulheres têm crescido muito na direção e contado histórias muito tocantes da nossa realidade. Dois filmes recentes que eu amo são Lady Bird [Lady Bird: A Hora de Voar, de 2017] da Greta Gerwig e Booksmart [Fora de Série, de 2019] da Oliva Wilde. Eu amaria trabalhar com alguma delas, porque sinto que elas contam histórias com as quais eu diretamente me identifico.

ESTRELANDO - Há alguma cena de efeitos especiais que você considera incrível e gostaria de ter criado/feito?

FS: Sim! Vou voltar no Christopher Nolan. Mas em A Origem quando Elliot Page e Leonardo DiCaprio entram na realidade do sonho, e começam a manipular o ambiente é sensacional. Eu queria muito ter feito aquela cena, não só pelos efeitos, mas porque eu sou muito ligada em estudar sonhos, o subconsciente, e em praticar sonhos lúcidos. Então aquele filme todo desperta em mim muito interesse. Se eu pudesse escolher um filme pra dizer: Eu queria ter feito esse filme todo! seria esse.

Você tem algum recado especial para mandar para mulheres que querem ingressar nessa área do cinema? E algum conselho?

FS: Eu diria vai sem medo! Fale sobre as coisas que você gosta. O meu primeiro emprego depois da faculdade eu consegui usando meu vlog no YouTube como portfólio. Eu não tinha exemplos de trabalho ainda porque nunca tinha editado nada profissionalmente, então pra mostrar o que eu sabia fazer eu usava meus próprios vídeos. No início eu tinha muita vergonha de mostrar o que fazia porque não achava bom o suficiente, mas era. Nós mulheres aprendemos a ser muito críticas com a gente mesma, mas a gente precisa confiar na gente mesma e ir em frente. E sempre procurem outras mulheres que estão fazendo o que você quer fazer, pela minha experiência eu vejo que mulheres que conquistam espaços sempre querem abrir caminho para as outras. O meu primeiro estágio foi em uma produtora onde a dona era mulher. Meu primeiro longa-metragem foi para uma diretora mulher. A produtora que providencia os documentos para renovar meu visto de trabalho é uma mulher. Essa união abre muitos caminhos e nos passa muita confiança.

Logo abaixo, veja as mulheres que arrasam na sétima arte!

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