Quem é apaixonado pela televisão brasileira sabe a importância que José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, mais conhecido como Boni, teve para a história da programação. Na realidade, até aqueles que não acompanham de perto as produções conhecem a referência do diretor. A história da Globo, por exemplo, quase se confunde com a sua trajetória. Por isso, no dia do aniversário do ex-todo-poderoso da emissora, que rola nesta quarta-feira, dia 30, o ESTRELANDO relembra o que mudou desde a sua saída do comando global. Lembrando que, depois de passar por Tupi e Excelsior, ele chegou em 1967 à tevê da família Marinho, ficando 31 anos no comando do canal.

Para começar, em sua época o ator afirmava que era muito importante ter uma mocinha definida nas novelas, como revelou em entrevista ao jornal O Dia: - A mocinha tem que ser frágil, para que o público possa torcer por ela. Não pode ser tão forte como o vilão. Hoje, no entanto, não é mais assim. Prova disso aconteceu na novela Avenida Brasil, quando vilã e mocinha se confundiram na trama.

O jornalismo também sempre foi um ponto importante para Boni, que tinha como um de seus maiores orgulhos o Jornal Nacional. - Conseguimos criar um telejornal com informação para o país todo, ao vivo. Era um desafio muito grande e um projeto polêmico, porque havia várias maneiras de implantar. Mas não inventamos o modelo, copiamos o da TV americana, que já estava no ar há mais de 20 anos, disse na mesma entrevista. Hoje, no entanto, ele não gosta do ar mais informal dos apresentadores, já que, para Boni, é importante que os apresentadores tenham distância do público.

O futebol, importante para a programação da Globo, também é motivo de crítica de Boni nos dias de hoje. - A Globo devia continuar perseguindo a questão de fazer uma TV brasileira sem defeitos, sem repetição e sem concessões. Ela não pode transmitir esse futebol chinfrim como obrigação comercial. Podia ser um pouco menos comercial e voltar a ser mais artística. Eu não acabaria com o futebol, não! Mas só transmitiria jogo bom. Esse de quarta-feira mata!

Sabe quem criou o famoso padrão Globo de qualidade? Boni, é claro! Mas ele mesmo afirma que o rigor de antes não está mais na programação. - Às vezes, quando vejo algum deslize na programação, sofro muito, porque tenho medo de que as pessoas joguem fora isso, não é apenas um padrão técnico, é uma questão artística. Ops!

Mais uma crítica do ex-diretor ao que é transmitido hoje: os vendedores. - O que Fausto Silva e Luciano Huck anunciam vende. Mas o que fazer com eles em matéria de conteúdo? O problema é conteúdo, analisa. Além disso, ele ainda reclama do desgaste da imagem de Faustão, o que antes não acontecia. - Largar o cara apresentando ao vivo um programa de três horas é um desgaste. Eu arranjaria mais produção, para que ele aparecesse menos e o programa não dependesse tanto dele.

Por fim, Boni também acha que não há tanta personalidade na programação nos dias de hoje. E ele explica: - Tinha uma equipe e filtrava as ideias de todos, mas concentrava a decisão. Isso dava personalidade à Globo, a emissora tinha uma cara. Se era boa ou ruim, isso se devia aos meus erros e acertos. Hoje, falta uma cara própria em todas as áreas de programação. Acho que o público sente essa necessidade de que a emissora tenha uma marca intensa.