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Reuters Daniel Alves foi condenado a quatro anos e seis meses pelo crime de estupro, segundo o jornal La Vanguardia. O jogador e a acusação foram convocados na manhã desta quinta-feira, dia 22, duas semanas após o julgamento. A pena não era bem a esperada pelo Ministério Público espanhol, que pedia nove anos de prisão, mas foi atenuada após o jogador pagar uma indenização de 150 mil euros. Como o Alves já cumpriu um quarto da pena, visto que está preso desde janeiro de 2023, poderá solicitar autorizações ordinárias de saída. A segui, relembre como foram os três dias de julgamento do brasileiro:
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Reuters O julgamento de Daniel Alves começou no dia 5 de fevereiro de 2024, um pouco mais de um ano após ele ser preso preventivamente em Barcelona, na Espanha. O brasileiro foi acusado de estupro por uma jovem, que diz que ele lhe agarrou a força no banheiro de um bar na no dia 22 de dezembro de 2023. Nas primeiras imagens do jogador, já no banco dos réus, ele apareceu de camisa social branca e calça jeans.
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Reuters Então foi a vez da vítima se pronunciar sobre sua acusação contra o jogador. Em uma sala fechada e com a voz adulterada, ela falou sobre sua versão dos fatos. Ela conta que foi chamada para uma área VIP da boate, onde conheceu Daniel. Ela alega não ter o reconhecido como um jogador famoso e foi apresentada por amigos dele. Eles dançaram juntos e ela conta que nesse momento Daniel pegou em sua mão e levou até seu pênis, o que fez com que ela se assustasse. Na madrugada, Daniel teria pedido que ela o seguisse até uma porta, que ela se deu conta de que seria um banheiro. Foi nesse momento que ela teria tentado deixar o local, sem sucesso. Daniel então teria a penetrado de forma violenta até ejacular. Ele deixou o banheiro primeiro. Quando ela saiu, contou a uma amiga sobre o ocorrido - Daniel já havia deixado o local. Ela então teria ido a um hospital. Dois dias depois, ela fez a denúncia e o DNA de Daniel foi encontrados nos exames.
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Reuters A advogada de Daniel, Inés Guardiola, tomou a palavra logo no começo do primeiro dia. Além de pedir autorização para que Daniel deponha no último dia de audiência, ela ainda pediu que a mesma fosse suspensa, alegando que as investigações contra Alves ocorreram por 15 dias sem que ele soubesse - portanto, sem o direito de defesa. Ela ainda afirmou que houve vazamento de informações para a mídia, ocorrendo o que ela chamou de julgamento paralelo por parte da sociedade. Para completar, ela ainda pediu que a vítima fizesse novos testes, dessa vez com perito diferente. Depois de 30 minutos de recesso, o tribunal negou os pedidos da advogada e seguiu com a audiência.
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Reuters Em seguida, foram ouvidos uma amiga e uma prima da denunciante, e o porteiro e dois garçons da boate. As testemunhas de acusação afirmaram também terem sido apalpadas por Alves antes do suposto estupro da vítima. Já no segundo dia de audiência, um amigo Daniel, que o acompanhava no dia dos fatos, deu a seguinte declaração: Ficamos até uma da manhã no restaurante tomando uísque. Depois fomos a um lugar, tomamos alguns drinks, encontramos outros amigos e, dentro do carro, decidirmos ir ao Sutton seguir bebendo. Ele não dirigiu porque já tinha bebido muito e eu tinha bebido menos.. Um outro funcionário da boate relatou o que teria ouvido da vítima quando foi lhe prestar ajuda: Sabia para o que estava indo, mas depois se arrependeu. Foram suas palavras.
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Reuters Além da mãe do jogador, que você vê acima, o depoimento mais esperado era de Joana Sanz, esposa de Daniel, que diz: Ele foi comer com seus amigos no restaurante. Passou o dia aí e voltou era quase 4 da manhã. Voltou muito bêbado, uma pessoa com muito álcool. Bateu no armário e caiu na cama.
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Reuters Como informado logo logo acima, Daniel Alves deu o seu depoimento no último dia do julgamento e após todas as testemunhas. Antes do jogador depor, o tribunal exibiu alguns vídeos. Na gravação é possível escutar o choro de uma mulher, e é neste momento em que Daniel abaixa a cabeça e não consegue olhar para as imagens.
Daniel contou que no dia em questão, ele saiu com alguns amigos: - Sai com meus amigos para comer juntos. Era umas 14h30. A princípio íamos só comer. Fazia muito tempo que não nos víamos então ficamos mais tempo. Pedimos 5 (garrafas) de vinho, um uísque, um saquê. (Tomei) mais ou menos uma e meia, duas garrafas de vinho, um copo de uísque. Depois de sair do restaurante, fomos direto ao bar. Ficamos aí um tempo, tomando uma rodada de gin tônica. Quando saímos daí, nós fomos ao Sutton. Eu e Bruno seguimos, os outros foram para casa. Entre 2 a 3 da manhã. Eu entrei na discoteca e os funcionários me levaram para a reserva da mesa 6. Depois pedi para trocar para a 7 porque a 6 estava longe da pista de dança.
O jogador disse que quando chegou na sala reservada com o amigo avistou as duas meninas e, segundo ele, foi reconhecido pelas mesmas: - Quando chegamos na sala reservada, estávamos eu e Bruno dançando e seguimos por um tempo. Estavam duas meninas lá e ficaram por um tempo. Bruno que chamou as meninas. Um garçom trouxe o champanhe que havíamos pedido. Dançávamos bem próximos, de forma respeitosa. Sim, acho que elas sabiam que era eu porque mais de uma vez me pediram para tirar foto.
- Ficamos dançando pegado. Por um tempo a dançar mais próximo, começou a roçar suas partes nas minhas. Coloquei a mão e quando começou a pressão sexual, falei para ir ao banheiro, e ela disse que tudo bem. Não falou nada. Quando fui ao banheiro, disse a ela que iria primeiro e ela me deixou esperando um pouco. Achei que ela não viria, pensei que ela não queria vir. Baixei as calças, sentei no vaso sanitário, ela se ajoelhou e começou a me fazer sexo oral. Ela estava na minha frente e começamos a relação. Lembro que ela sentou em mim. Não sou um homem violento. Não a forcei a praticar sexo oral forçadamente. Ela não me disse nada. Estávamos desfrutando os dois e nada mais, neste momento, Daniel abaixou a cabeça, chorou e tomou um pouco de água.
No final do seu depoimento, o jogador afirmou que realmente chegou bêbado em casa e só soube das acusações através da imprensa: - Quando cheguei em casa, lembro que ela (a esposa Joana Sanz) estava em casa na cama e dormi na sequência. Sim, estou dizendo o mesmo que das outras vezes. Soube pela imprensa que estavam me acusando. Soube que estavam me acusando de violação sexual. Estava praticamente arruinado porque tive todos os meus contratos rompidos, contas bloqueadas. Fiquei sabendo tudo pela imprensa.
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The Grosby Group No terceiro e último dia de julgamento, foi a vez de ouvir os especialistas. Um dos médicos que atendeu a denunciante contou como foi o contato com ela no hospital: Se via uma garota coerente, que explicava as coisas tal como havia vivido. Ela explicou que havia dado beijos no pescoço e depois quis sair e não pôde.
O médico também explicou os machucados que a vítima tinha no joelho: Em quedas, é normal que ocorram hematomas na altura de ambos os joelhos. Estamos diante de uma lesão lateral, na parte externa do joelho. Poderia ter sido contra uma superfície áspera que teria impactado. Estabelecer que esse foi o caso é muito complicado e complexo. Podem aparecer devido a diferentes circunstâncias.
Outro médico também explicou que a falta de lesão vaginal na vítima não significa que não tenha havido o estupro: Estamos também acostumados a ver casos de violência em que não há lesões físicas. Nesse caso, não encontramos nenhuma lesão, mas não podemos dizer que não tenha nenhuma agressão.
Uma psicóloga forense, que também teve contato com a vítima, falou sobre a situação mental da mesma. Ela afirmou que não tem nenhum indicador nem nenhuma suspeita de que poderia estar exagerando ou simulando.
A psicóloga ainda falou sobre os sintomas pós-traumáticos da vítima, como alteração no sono: Ficava muito nervosa quando escutava (alguém) falar (em) português.
Mais de uma psicóloga foi ouvida no tribunal. Entre os esclarecimentos que elas deram, estavam de que a vítima optou por não tomar medicamentos para tratar o trauma, mas que isso é uma escolha do paciente - que não necessariamente significa que o trauma não tenha ocorrido ou que não a afete:
Muitos não querem tomar para não estarem sob efeito de remédios, explicou a especialista.
E finaliza:
Quando estamos com uma paciente que sofre com sintomas pós-traumáticos tão variados, é alguém que tem a sensação de perder o controle da vida e das emoções.
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Reuters Após o depoimento, a audiência seguiu para as considerações finais. Enquanto a advogada da vítima pediu a pena máxima de 12 anos, a do jogador solicitou a absolvição do mesmo.
É essencial avaliar o comportamento anterior para avaliar o consentimento. Havia uma atração sexual entre eles, disse.
No final do julgamento informaram que não há prazo definido para a apresentação da sentença final. De acordo com a imprensa espanhola, segundo repercussão do GE, a decisão pode sair dentro de um mês.
Ainda cabe recurso no Tribunal de Apelação.