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Não é de hoje que as motocicletas chamam a atenção por onde passam. Algo em torno do barulho do motor, das rodas cromadas e da velocidade que chicoteia os cabelos ao vento faz com que todo o cenário exale charme, sensualidade e mistério. E claro, onde tem uma moto, existe um motoqueiro - ou motociclista, como preferir chamar. Ao longo de décadas, o estilo de vida excêntrico dos clubes de motoqueiros atraíram os olhos de diretores de Hollywood, que desejavam mostrar nas telonas a maneira que certos grupos fora da lei pensavam e agiam. Easy Rider estreou nos cinemas em 1969, tornando-se um dos maiores clássicos norte-americanos. Em 2007 foi a vez de Motoqueiros Selvagens escancarar os altos e baixos dos motoclubes, já de 2008 a 2014, a série Sons Of Anarchy conquistou milhares de fãs, deixando até mesmo os leigos com vontade de ingressar em motoclubes. Agora, em 2024, chegou a vez de Clube dos Vândalos trazer o holofote mais uma vez para estes grupos. Com Austin Butler, Tom Hardy e Jodie Comer no elenco, o ESTRELANDO já assistiu e te conta (sem spoilers) se vale a pena!
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O Clube dos Vândalos se passa em uma época que a rebeldia tomava conta da América, quando a cultura estava em constante transformação. A história acompanha a jornada de um clube de motoqueiros do centro-oeste norte-americano. Através da vida de seus membros, o filme narra, ao longo de uma década, a transformação do clube à gangue perversa que coloca em risco o estilo autêntico e único do grupo original. O cineasta Jeff Nichols já expressava a vontade de dirigir uma produção do gênero há alguns anos até que simplesmente tirou do papel a ideia de fazer o filme sobre uma gangue da vida real que estava estabelecida em Chicago nos anos 1960, os Vândalos. A trama é baseada no livro de fotografias The Bikeriders, do fotógrafo Danny Lyon, que documentou a vida dos integrantes entre 1965 e 1967, chegando a viver com a gangue.
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Tomando o livro como uma verdadeira espécie de bússola e usando os áudios originais de conversas de membros do clube que o gravador de Lyon captou, Nichols criou um filme para aqueles rostos congelados nas fotografias. Depois de um encontro casual no bar local, Kathy, vivida por Jodie Comer, não resiste ao charme de Benny, personagem de Austin Butler, um dos motociclistas dos Vândalos - e o queridinho do líder, Johnny, protagonizado por Tom Hardy. Todo o enredo é guiado por entrevistas do jornalista Danny, interpretado por Mike Faist, que passa a maior parte do tempo conversando com Kathy, a única figura feminina presente no clube e a responsável por narrar o filme. Com sua personalidade durona, ela não leva desaforo para casa e relembra a trajetória da gangue - do ápice a ruínas.
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Se por um lado Kathy é tagarela, fazendo com que Jodie Comer tenha páginas e páginas de diálogos, Benny se mostra um homem de poucas palavras, desafiando Austin Butler a transmitir todos os pensamentos do personagem apenas com olhares e expressões corporais - o que o ator faz com maestria. Com cabelos loiros despenteados, roupas de couro desgastado, jeans sujo, anéis nos dedos e músculos dos braços à mostra com tatuagens, Benny tem um magnetismo que ninguém é capaz de explicar, fazendo com que toda a história gire em torno dele mesmo quando não o é seu momento de brilhar. Se ainda existia alguma dúvida de que Butler é o novo James Dean do cinema, figura icônica dos anos 1950, O Clube dos Vândalos chegou para bater o martelo. Com pouquíssimos diálogos e pausas significativas, Butler trabalha como uma verdadeira estrela de cinema ao entregar expressões corporais e faciais que transmitem o que seu personagem enigmático pensa e sente sem ao menos proferir uma palavra. Apesar de suas atitudes violentas e pose de rebelde, é nítido que Benny esconde a tristeza dentro de si, sendo possível ler sua alma através do olhar assombrado e da energia refreada - o que chega a ser quase irônico, já que tudo o que Benny faz com sua moto não é frear. Em diversas cenas, Benny aparece apenas em silêncio, dizendo tudo, sem dizer nada. Não é à toa que Austin lidera a lista dos dez atores mais desejados pelos estúdios, sendo o queridinho de Hollywood atualmente, o chamado garoto de ouro!
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E claro, onde Benny está, pode ter certeza que Johnny estará por perto. Afinal, a lealdade desses dois é o que move o enredo - e chega a ser assustadora. Até que ponto vai a lealdade de uma amizade? O que você faria para não perder a sensação de pertencer a algum lugar? Líder e fundador do motoclube, o personagem de Tom Hardy faz de tudo por Benny, assim como o personagem de Austin Butler quase perderia um pé pela gangue de Johnny. É Kathy que percebe a relação quase doentia do grupo e, acreditando que Benny morreria pelo motoclube, decide intervir para salvar a sanidade e a vida do amado. À medida que o clube vai crescendo, a coisa sai fora de controle e os valores se perdem. Onde antes existia uma irmandade apaixonada por motocicletas e a sensação de pertencimento, ruinou de uma forma crítica quando vendas de drogas, prostituição e violência entraram em cena, transformando o clube em uma gangue perigosa.
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Para viver a única figura feminina da história, Jodie Comer mergulhou nos áudios originais de Kathy e trocou seu sotaque naturalmente britânico para o do noroeste norte-americano. Algumas pessoas podem até se incomodar com a forma com que a atriz pronuncia as palavras, mas, a verdade é que ela reproduziu perfeitamente o mesmo timbre de voz da verdadeira Kathy. Basta ouvir os áudios e compará-los com as cenas do filme que você verá… as duas parecem ser a mesma pessoa.
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Além disso, para encontrar o equilíbrio certo, o cineasta Jeff Nichols estudou a fundo as fotografias originais dos membros da gangue, recriando roupas, penteados, tatuagens e até poses. Quer um exemplo? Acima está uma cena de Austin Butler, na pele de Benny, pilotando a motocicleta, enquanto abaixo é a foto do verdadeiro Benny tirada para o livro.
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Clube dos Vândalos cumpre o que promete, de forma visceral e bem filmado, imitando tons queimados pelo sol e transmitindo o alto barulho dos motores, fazendo com que o público sinta a vibração percorrer por todo o corpo. Contudo, apresenta certas falhas ao mostrar a rotina e a cultura de motoclubes quando não sai da superfície e perde a oportunidade de explorar melhor o passado de personagens interessantes, quase se resumindo apenas a história de um grupo de homens fora da lei que gostava de passar o tempo livre em bares, de maneira catatônica e sem grandes ambições - o que não era o caso. Por outro lado, a riqueza de detalhes dos anos 1960, a trilha sonora nostálgica e as atuações de Butler, Hardy e Commer são completamente cativantes.
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