X

NOTÍCIAS

Publicada em 14/11/2019 às 01:02 | Atualizada em 13/11/2019 às 19:51

Girl Power: Novo filme da franquia As Panteras vem para repaginar o gênero de ação

No meio de uma Hollywood que vem reciclando sucessos antigos, o longa é uma surpresa bastante positiva

Laura Ferrazzano

Divulgação

Desde os anos de 1970, a franquia As Panteras sempre se posicionou como um relevante símbolo de representação feminina dentro das histórias de espionagem. Em uma época em que subestimar as mulheres e fazer piadas - não tão engraçadas assim - sobre a fragilidade feminina era justamente a regra, os episódios que mostravam as agentes vividas pelas atrizes Jaclyn Smith, Farrah Fawcett-Majors e Kate Jackson, ao questionar estereótipos e mostrar o - suposto - sexo frágil em situações de combate para salvar o dia, foi um marco bastante significativo na história do cinema. 

É evidente que, com um olhar majoritariamente masculino na direção das produções e roteirização, nem sempre a franquia fez modelos perfeitos da figura feminina. Pelo contrário, a hipersexualização das personagens era extremamente comum, podendo ser notada desde as roupas das personagens até os movimentos de câmera - basicamente focando nos decotes, quadris e cinturas de todas as atrizes até Cameron Diaz, Drew Barrymore e Lucy Liu, nos anos 2000. 

Em 2019, as Charlie's Angels (nome original em inglês) vieram para revolucionar não só a concepção da figura e da força da mulher, mas também para demonstrar representatividade no gênero dos filmes de ação. Objetificação, manterrupting (termo utilizado para explicar situações em que um ou mais homens ficam interrompendo a fala de mulheres, impedindo que elas concluam o que estava sendo dito), supremacia do sexo masculino e rivalidade feminina são apenas alguns dos aspectos machistas que Elizabeth Banks, diretora e roteirista, fez questão de se livrar. Nesta versão, as espiãs contam com outro elenco de peso, com Kristen Stewart, vivendo a personagem Sabina Wilson, Ella Balinska, como Jane Kano e Naomi Scott interpretando Elena Houghlin. Na história, além do mote original de combater o crime e salvar o mundo, as heroínas mulheres precisam lidar com outros conflitos desafiadores dentro de um mundo plenamente machista. 

Inseridas em uma Hollywood influenciada pelo movimento Me Too - movimento internacional contra o assédio e agressão sexual - pela primeira vez na história, todo o universo da Agência Townsend está nas mãos de uma mulher. Subvertendo padrões na indústria com maestria, Elizabeth Banks consegue adequar o filme às angústias atuais sem abrir mão do DNA nostálgico da franquia. Mantendo a sensualidade suficientemente presente, a diretora tem a sacada de usar essa característica muito mais como uma habilidade extra que as garotas podem usufruir para conseguir ainda mais sucesso nas missões. Flertando com o feminismo e com um humor inteligente, Banks consegue resgatar a memória afetiva e ainda assim ser disruptiva e moderna. 

A história em si não foge do esperado. As personagens também apresentam personalidades similares às anteriores: Kristen Stewart se apresenta como a mais atrevida e engraçada; Ella Balinska é uma ex-agente do MI6 (serviço secreto britânico) bastante focada e independente; por fim, Naomi Scott é a caloura, a funcionária de uma empresa de tecnologia que descobre que o grande e inovador projeto de energia sustentável que estava desenvolvendo pode ser, na verdade, transformado em uma poderosa arma. Debaixo das asas da nova Bosley (agora um cargo e não apenas um indivíduo) no comando, vivida por Elizabeth Banks, todas elas juntas vão tentar assegurar que o protótipo fique longe dos bandidos. 

Vale ressaltar ainda que, dentro do revival, vemos a agência se tornar internacional. Com isso, todas as panteras são levadas a diversos países do mundo, entre eles o Brasil. Logo na abertura do filme, somos pegos de surpresa com uma cena ambientada no Rio de Janeiro e com uma trilha-sonora da cantora Anitta, com a canção original Pantera. Mas, embora a diversidade dos países seja interessante, o cenário brasileiro é apenas pano de fundo da trama, portanto não conte com a exposição de costumes culturais ou outro take de algum ponto turístico. 

Além disso, o tom de piada ainda se faz muito presente. São vários os comentários que zombam do machismo dos adversários enquanto as heroínas executam cenas espetaculares de ação. A diretora também reverte os estereótipos e cria personagens masculinos cômicos, trazendo um ar leve e descontraído para o enredo. Entretanto, a relação de amizade e empatia das três é o outro grande aspecto que sustenta o filme. Muito bem costurado, cada uma das agentes, em meio às missões, descobre e aprende algo importante para o seu próprio desenvolvimento. Jane, por exemplo, começa a história de forma orgulhosa, mas entende no final que não precisa fazer tudo sozinha; Elena, a mais tímida e insegura, aprende a ter mais confiança; Sabina, personagem - por mais que carismática - cheia de barreiras internas, sente-se acolhida junto às outras duas. E, de forma apressada mas ainda assim orgânica, a evolução da amizade do trio é emocionante.  

O dinamismo do roteiro, os entraves da história, o desenvolvimento das cenas e até mesmo o desfecho transmite, com muita destreza, todos os moldes de um filme de ação tradicional. Mal representado e totalmente masculino, os exemplos que existem para retratar todo esse gênero não engloba o grande mercado de mulheres que gostariam de consumir esse tipo de conteúdo. Não existia, até então, um longa que nos proporcionasse os balés de luta, a ação, a força e os combates feitos todos por personagens femininos. Até As Panteras

O final do grande clímax, quase na conclusão do filme, conta com uma cena extraordinária de sororidade. O jeito que Banks retrata a união de todas as mulheres, com muita empatia e companheirismo, juntas em prol de um objetivo comum, é comovente. O desfecho é muito mais que um simples sorriso ao sair da sala de cinema. Como mulher, é arrepiante. 

O longa estreia no Brasil nesta sexta-feira, dia 14. Confira o trailer legendado abaixo: 


Deixe um comentário

Atenção! Os comentários do portal Estrelando são via Facebook, lembre-se que o comentário é de inteira responsabilidade do autor, comentários impróprios poderão ser denunciados pelos outros usuários, acarretando até mesmo na perda da conta no Facebook.

Enquete

Qual famoso internacional você está mais ansioso para ver no Brasil?

Obrigado! Seu voto foi enviado.

Girl Power: Novo filme da franquia <i>As Panteras</i> vem para repaginar o gênero de ação

Girl Power: Novo filme da franquia As Panteras vem para repaginar o gênero de ação

05/Nov/

Desde os anos de 1970, a franquia As Panteras sempre se posicionou como um relevante símbolo de representação feminina dentro das histórias de espionagem. Em uma época em que subestimar as mulheres e fazer piadas - não tão engraçadas assim - sobre a fragilidade feminina era justamente a regra, os episódios que mostravam as agentes vividas pelas atrizes Jaclyn Smith, Farrah Fawcett-Majors e Kate Jackson, ao questionar estereótipos e mostrar o - suposto - sexo frágil em situações de combate para salvar o dia, foi um marco bastante significativo na história do cinema. 

É evidente que, com um olhar majoritariamente masculino na direção das produções e roteirização, nem sempre a franquia fez modelos perfeitos da figura feminina. Pelo contrário, a hipersexualização das personagens era extremamente comum, podendo ser notada desde as roupas das personagens até os movimentos de câmera - basicamente focando nos decotes, quadris e cinturas de todas as atrizes até Cameron Diaz, Drew Barrymore e Lucy Liu, nos anos 2000. 

Em 2019, as Charlie's Angels (nome original em inglês) vieram para revolucionar não só a concepção da figura e da força da mulher, mas também para demonstrar representatividade no gênero dos filmes de ação. Objetificação, manterrupting (termo utilizado para explicar situações em que um ou mais homens ficam interrompendo a fala de mulheres, impedindo que elas concluam o que estava sendo dito), supremacia do sexo masculino e rivalidade feminina são apenas alguns dos aspectos machistas que Elizabeth Banks, diretora e roteirista, fez questão de se livrar. Nesta versão, as espiãs contam com outro elenco de peso, com Kristen Stewart, vivendo a personagem Sabina Wilson, Ella Balinska, como Jane Kano e Naomi Scott interpretando Elena Houghlin. Na história, além do mote original de combater o crime e salvar o mundo, as heroínas mulheres precisam lidar com outros conflitos desafiadores dentro de um mundo plenamente machista. 

Inseridas em uma Hollywood influenciada pelo movimento Me Too - movimento internacional contra o assédio e agressão sexual - pela primeira vez na história, todo o universo da Agência Townsend está nas mãos de uma mulher. Subvertendo padrões na indústria com maestria, Elizabeth Banks consegue adequar o filme às angústias atuais sem abrir mão do DNA nostálgico da franquia. Mantendo a sensualidade suficientemente presente, a diretora tem a sacada de usar essa característica muito mais como uma habilidade extra que as garotas podem usufruir para conseguir ainda mais sucesso nas missões. Flertando com o feminismo e com um humor inteligente, Banks consegue resgatar a memória afetiva e ainda assim ser disruptiva e moderna. 

A história em si não foge do esperado. As personagens também apresentam personalidades similares às anteriores: Kristen Stewart se apresenta como a mais atrevida e engraçada; Ella Balinska é uma ex-agente do MI6 (serviço secreto britânico) bastante focada e independente; por fim, Naomi Scott é a caloura, a funcionária de uma empresa de tecnologia que descobre que o grande e inovador projeto de energia sustentável que estava desenvolvendo pode ser, na verdade, transformado em uma poderosa arma. Debaixo das asas da nova Bosley (agora um cargo e não apenas um indivíduo) no comando, vivida por Elizabeth Banks, todas elas juntas vão tentar assegurar que o protótipo fique longe dos bandidos. 

Vale ressaltar ainda que, dentro do revival, vemos a agência se tornar internacional. Com isso, todas as panteras são levadas a diversos países do mundo, entre eles o Brasil. Logo na abertura do filme, somos pegos de surpresa com uma cena ambientada no Rio de Janeiro e com uma trilha-sonora da cantora Anitta, com a canção original Pantera. Mas, embora a diversidade dos países seja interessante, o cenário brasileiro é apenas pano de fundo da trama, portanto não conte com a exposição de costumes culturais ou outro take de algum ponto turístico. 

Além disso, o tom de piada ainda se faz muito presente. São vários os comentários que zombam do machismo dos adversários enquanto as heroínas executam cenas espetaculares de ação. A diretora também reverte os estereótipos e cria personagens masculinos cômicos, trazendo um ar leve e descontraído para o enredo. Entretanto, a relação de amizade e empatia das três é o outro grande aspecto que sustenta o filme. Muito bem costurado, cada uma das agentes, em meio às missões, descobre e aprende algo importante para o seu próprio desenvolvimento. Jane, por exemplo, começa a história de forma orgulhosa, mas entende no final que não precisa fazer tudo sozinha; Elena, a mais tímida e insegura, aprende a ter mais confiança; Sabina, personagem - por mais que carismática - cheia de barreiras internas, sente-se acolhida junto às outras duas. E, de forma apressada mas ainda assim orgânica, a evolução da amizade do trio é emocionante.  

O dinamismo do roteiro, os entraves da história, o desenvolvimento das cenas e até mesmo o desfecho transmite, com muita destreza, todos os moldes de um filme de ação tradicional. Mal representado e totalmente masculino, os exemplos que existem para retratar todo esse gênero não engloba o grande mercado de mulheres que gostariam de consumir esse tipo de conteúdo. Não existia, até então, um longa que nos proporcionasse os balés de luta, a ação, a força e os combates feitos todos por personagens femininos. Até As Panteras

O final do grande clímax, quase na conclusão do filme, conta com uma cena extraordinária de sororidade. O jeito que Banks retrata a união de todas as mulheres, com muita empatia e companheirismo, juntas em prol de um objetivo comum, é comovente. O desfecho é muito mais que um simples sorriso ao sair da sala de cinema. Como mulher, é arrepiante. 

O longa estreia no Brasil nesta sexta-feira, dia 14. Confira o trailer legendado abaixo: