Você lembra do filme brasileiro que foi aplaudido por 12 minutos no Festival de Cannes após sua exibição? Pois é, Motel Destino, um filme de Karim Aïnouz, chega às telonas do cinema nesta quinta-feira, dia 22, e promete entregar uma história cheia de suspense, tensão, sexo e valorização das raízes cearenses, pois se passa no estado. O ESTRELANDO assistiu ao longa em primeira mão e conta a seguir, com alguns spoilers, tudo o que você precisa saber sobre a produção de sucesso! 

O filme começa com a história de Heraldo, interpretado por Iago Xavier, um menino novo que perdeu os pais quando criança e teve que se virar sozinho a vida inteira. Quando adulto, precisou pagar uma dívida, mas falhou, pois passou a noite no Motel Destino com uma desconhecida, que o rouba. Heraldo é procurado por todos os capangas das pessoas a quem ele deve, e nada mais resta a ele do que se esconder no próprio motel onde foi roubado. 

O que ele não esperava é que dentro daquele pequeno espaço, ele iria encontrar muito mais que um esconderijo. Logo no início, o protagonista consegue fixar sua posição dentro do estabelecimento e ganha um emprego, virando um faz-tudo do lugar e ajudando-os a cuidar do local. Elias, personagem de Fábio Assunção, é dono do motel e casado com Dayane, vivida por Nataly Rocha, que também trabalha por lá e foi a responsável por deixar Heraldo morar no local. 

No decorrer do filme, Heraldo e Dayane desenvolvem uma conexão quase que instantânea e inevitável, e vão descobrindo cada vez mais a história de vida um do outro, percebendo que, mesmo diferentes, passam pelas mesmas situações. Depois de um tempo, isso se desenvolve em um caso extraconjugal, no qual ambos sonham com a mesma coisa: liberdade. 

Isso porque Elias prende a esposa dentro do motel e do casamento. Agressivo, alcóolatra e impulsivo, Elias bate em Dayane e a ameaça se algum dia ela decidir ir embora daquele lugar. Já Heraldo é preso por ter seus sonhos destruídos e ter que estar sempre fugindo e lutando para sobreviver. 

Karim brinca com a ironia dos personagens principais estarem dentro de um estabelecimento conhecido por ser um escape para liberdade, onde não tem inibições, mas que estão presos o tempo todo pelos próprios problemas e ameaças. Isso é mostrado pela sonoridade do filme, ao fechar os portões, pois o som é similar ao da prisão; ou aos gemidos de fundo quando alguma cena de tensão e briga está acontecendo, apontando a diferença das sensações entre eles e os clientes. 

Além disso, Karim valoriza os corpos e olhares das personagens na construção do enredo. Com diálogos pontuais, o diretor deixa muito mais para a interpretação e sensação que pondera o ar entre Heraldo e Dayane, focando nas trocas de olhares, no silêncio quando Elias está por perto e até na mudança da linguagem corporal que Day mostra ao ficar perto do marido e do amante. 

Por dividirem sonhos, sensações, medos e dificuldades, os personagens de Iago e Nataly desenvolvem uma espécie de proteção mútua um pelo outro, junto com um carinho nítido pelo tratamento... se tornam um porto seguro, o lugar de liberdade um do outro.

Mas como o filme é pautado por ironia, vivendo às escondidas, os dois acabam caindo em mais uma prisão ao começarem a se relacionar, pois Elias não pode descobrir sobre eles. Mas claro que acabam sendo descobertos e precisam fugir, vivendo quase que um ciclo vicioso entre amor, prisão, liberdade, fuga. No entanto, no final, há um pequeno plot twist e uma incerteza sobre o relacionamento entre os dois. 

Motel Destino é um filme sensual e feito para o espectador refletir sobre liberdade, sonhos, vontades e tipos de prisões, mostrando também a realidade e a dificuldade de outras perspectivas. E aí, ficou com vontade de assistir?