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Publicada em 14/05/2021 às 00:00 | Atualizada em 13/05/2021 às 15:00

Thomás Aquino revela olhar sensível e empático sobre personagem em Sons & Drinks: - Se a gente estivesse ali para o outro, acho que cresceríamos muito como universo

Ator é protagonista do novo podcast de ficcção da B9, já disponível nas plataformas de streaming

Carolina Rocha

Divulgação

Thomás Aquino, que brilhou nos filmes Bacurau, Todos os Mortos, Curral e na minissérie Treze Dias Longe do Sol, agora está com um novo projeto: ele é o protagonista do podcast Sons & Drinks, onde interpreta o barman Chico. O programa de ficção da B9, idealizado pela produtora executiva Cris Bartis, traz uma história diferente a cada episódio, e cada novo personagem promove uma conversa reflexiva, cuidadosa e verdadeira com o caloroso Chico. E em entrevista ao ESTRELANDO, Thomás celebrou a oportunidade de dar vida a esses diálogos tão importantes, ainda mais em um momento de pandemia, onde tudo é feito por meio das telas.

- Acho que perdemos muito do olho no olho devido esse avanço tecnológico. E por mais que isso seja uma coisa que, na verdade, soma, ao mesmo tempo ela pode atrapalhar em como conhecemos as pessoas, conhecer quem somos e conhecer a vida, né? Acho que essa troca é muito bacana. 

Para o artista, embora a história do protagonista possa ser interessante, existem qualidades nesse personagem que são ainda mais essenciais: a generosidade, a paciência e o acolhimento. 

- O Chico, na verdade, conta uma parte em um dos episódios, mas em relação à introdução de uma outra história. Então quem sabe em uma segunda temporada, ou em uma terceira, a gente vá saber mais sobre esse Chico. Ele é um cara que a gente já pode perceber que é, na verdade, uma espécie de misticismo terapêutico. Ele está ali para as pessoas. Por mais que a gente não saiba a história de Chico contada, o mais importante é que ele está ali por você. E isso é que é o bonito nesse ser humano. Acho que as pessoas, hoje em dia, poderiam levar isso para o real. Se a gente estivesse para cada um ali do lado, só para perguntar como está, e como está de verdade, acho que a gente iria crescer muito como universo.

A percepção do barman Chico na narrativa de Sons & Drinks é mais do que empática: é um aprendizado.

- Cada um, na verdade, imagina quem esse Chico poderia ser. Claro que, no podcast, ele é um barman. Mas esse Chico poderia ser um cobrador de ônibus, o motorista do ônibus, um gari, tantas pessoas que estão aí, disponíveis para estar com você... Então acho que a proposta maior é como o ser humano pode estar disponível para você, para a gente. Acho que se a gente buscasse um diálogo, uma escuta de quem a gente não conhece mesmo, só para ouvir o outro desabafar, falar sobre as coisas que estão lhe afligindo naquele momento, com certeza esse momento será transformado em um afago. Então o Chico ser um barman é um mínimo detalhe para o que transforma a grandeza desse podcast: que é simplesmente o fato do ser humano estar ali para você. E Chico é sábio nesse sentido, de não ser simplesmente mais um que está ali trabalhando, apenas servindo... Ele sabe que nós, seres humanos, temos muitas histórias, muitas dores e muitos pensamentos.

E todos esses sentimentos precisavam estar claros por meio de um único recurso: a voz.

- Atuar em projetos visuais exige da voz, sim, mas o podcast exige mais ainda. O trabalho específico é a conversa mesmo, o diálogo, assim como no audiovisual. Porém, o que eu levei para a cena foi a troca de olhar e aguçar mais a escuta de estar junto, de intensificar mais as ações ao invés das expressões de rosto, e de intensificar as expressões vocais; a calma que você passa na hora de falar é importante, se está ofegante, a expressão do que você quer de fato dizer... Então o que eu pude passar para esse trabalho foi isso, esses pensamentos de como expressar na voz tudo o que eu quero dizer. Foi um trabalho bem diferente, mas bem ousado e interessante.

De acordo com Thomás, o episódio Clericot, que navega pela complexidade da maternidade, poderia até mesmo mudar o modo como a sociedade e os homens enxergam o papel da mãe nos dias de hoje.

- Precisamos desmistificar essa questão de ser mãe, porque vivemos em uma sociedade muito machista e conservadora. Vários episódios têm essa temática no podcast, temas interessantíssimos, e o Clericot é um deles. Pelo que eu pude entender conversando com Cris [Bartis, a produtora executiva] e estudando sobre essa questão, as mulheres mães são muito castigadas. Precisam estar há dois anos, no mínimo, com o bebê, mas nessa sociedade a mãe perde oportunidades de emprego, às vezes é demitida, tem que voltar logo, após seis meses, ao trabalho... É praticamente uma tortura, né? E fora que o marido, falando sobre o homem em específico, não tem uma licença-maternidade tão disposta quanto a mãe, então ele não pode estar junto o que é necessário nesse crescimento. Então o que se desmistifica também nesse episódio é isso; acho que às vezes essa elucubração da mãe de poder querer viver um pouco mais, porque você de certa maneira fica presa, entre aspas, de um ser que precisa de todo um apoio seu. Você, de certa maneira, acaba vivendo para aquele ser. Então é muito triste o modo como a gente coloca a mãe na sociedade atual. Se nós homens víssemos a parceria como um completo, se entendêssemos que os dois são mães, de responsabilidades, com certeza isso iria mudar. Com certeza os direitos seriam diferentes.

Inclusive, as discussões podem e devem ser muito mais profundas do que são apresentadas. Em uma determinada parte de Clericot, Chico genuinamente avisa a personagem Lisbela, vivida por Miá Mello, que seu leite acabou vazando na camiseta. E aqui fica a questão: por que ter esse tipo de interação com uma lactante precisava ser incômodo? 

- Acho muito bom isso ser natural e acho que a intenção do podcast é tratar essas temáticas com leveza. Temos que desmistificar tudo, tratar o natural como natural. A sociedade, mais uma vez machista e conservadora, fez com que a amamentação fosse um tabu, e isso é uma coisa natural de se ver, uma mãe amamentando uma criança, um ser humano. E tem uma sexualização em relação a isso, o mercado pornográfico que trata isso, tem toda uma construção aí que a gente tem que ver. Mas a ideia do podcast é justamente desconstruir esses mitos que foram criados, para que a gente possa viver numa sociedade mais interessante, de igualdade. Talvez isso, mas não só isso, reduziria bastante os estupros, com a diminuição da sexualização do corpo feminino... Acho que a ideia do podcast é essa: desmistificar os mitos que envolvem a naturalidade das coisas. A gente tem que trabalhar isso, é muito forte que a gente possa pensar, refletir e conversar sobre. Acho que chegou o momento da gente transformar o mundo conservador em um mundo sociável, interessante, e partilhar dele, todo mundo igual, opina Thomás.

Por fim, o ator falou sobre o seu episódio favorito do programa.

- Um que mexeu muito comigo foi o Floradora. O Floradora traz uma sensibilidade muito grande, muito interessante, em detalhes, em riqueza, de como uma fruta pode trazer memórias afetivas e construtivas para o ser humano. Isso para mim foi muito importante, de ver como uma framboesa tem toda uma história familiar... É um episódio que, para mim, tem uma riqueza de sentimento através de uma memória, onde mexe com esse Chico, que é onde ele conta uma parte dele, e que transforma ele, querendo ou não. É um episódio muito bonito para mim. Às vezes a gente acaba perdendo esse sentimento; por exemplo, uma folha que cai e que alguém apanha pode se transformar em um grande filme, um papel higiênico que foi dobrado e alguém deu, pode ser um grande filme. A gente tem grandes filmes na nossa frente, a gente só não está escrevendo eles.

Entre as participações especiais de Sons & Drinks, estão nomes como Miá Mello, Jacqueline Sato, Denise Weinberg, Dagoberto Feliz e Lilian Blanc. O podcast já está disponível nas principais plataformas de streaming, como o Spotify e o Pocket Casts.

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Thomás Aquino revela olhar sensível e empático sobre personagem em Sons & Drinks: - Se a gente estivesse ali para o outro, acho que cresceríamos muito como universo

18/Abr/

Thomás Aquino, que brilhou nos filmes Bacurau, Todos os Mortos, Curral e na minissérie Treze Dias Longe do Sol, agora está com um novo projeto: ele é o protagonista do podcast Sons & Drinks, onde interpreta o barman Chico. O programa de ficção da B9, idealizado pela produtora executiva Cris Bartis, traz uma história diferente a cada episódio, e cada novo personagem promove uma conversa reflexiva, cuidadosa e verdadeira com o caloroso Chico. E em entrevista ao ESTRELANDO, Thomás celebrou a oportunidade de dar vida a esses diálogos tão importantes, ainda mais em um momento de pandemia, onde tudo é feito por meio das telas.

- Acho que perdemos muito do olho no olho devido esse avanço tecnológico. E por mais que isso seja uma coisa que, na verdade, soma, ao mesmo tempo ela pode atrapalhar em como conhecemos as pessoas, conhecer quem somos e conhecer a vida, né? Acho que essa troca é muito bacana. 

Para o artista, embora a história do protagonista possa ser interessante, existem qualidades nesse personagem que são ainda mais essenciais: a generosidade, a paciência e o acolhimento. 

- O Chico, na verdade, conta uma parte em um dos episódios, mas em relação à introdução de uma outra história. Então quem sabe em uma segunda temporada, ou em uma terceira, a gente vá saber mais sobre esse Chico. Ele é um cara que a gente já pode perceber que é, na verdade, uma espécie de misticismo terapêutico. Ele está ali para as pessoas. Por mais que a gente não saiba a história de Chico contada, o mais importante é que ele está ali por você. E isso é que é o bonito nesse ser humano. Acho que as pessoas, hoje em dia, poderiam levar isso para o real. Se a gente estivesse para cada um ali do lado, só para perguntar como está, e como está de verdade, acho que a gente iria crescer muito como universo.

A percepção do barman Chico na narrativa de Sons & Drinks é mais do que empática: é um aprendizado.

- Cada um, na verdade, imagina quem esse Chico poderia ser. Claro que, no podcast, ele é um barman. Mas esse Chico poderia ser um cobrador de ônibus, o motorista do ônibus, um gari, tantas pessoas que estão aí, disponíveis para estar com você... Então acho que a proposta maior é como o ser humano pode estar disponível para você, para a gente. Acho que se a gente buscasse um diálogo, uma escuta de quem a gente não conhece mesmo, só para ouvir o outro desabafar, falar sobre as coisas que estão lhe afligindo naquele momento, com certeza esse momento será transformado em um afago. Então o Chico ser um barman é um mínimo detalhe para o que transforma a grandeza desse podcast: que é simplesmente o fato do ser humano estar ali para você. E Chico é sábio nesse sentido, de não ser simplesmente mais um que está ali trabalhando, apenas servindo... Ele sabe que nós, seres humanos, temos muitas histórias, muitas dores e muitos pensamentos.

E todos esses sentimentos precisavam estar claros por meio de um único recurso: a voz.

- Atuar em projetos visuais exige da voz, sim, mas o podcast exige mais ainda. O trabalho específico é a conversa mesmo, o diálogo, assim como no audiovisual. Porém, o que eu levei para a cena foi a troca de olhar e aguçar mais a escuta de estar junto, de intensificar mais as ações ao invés das expressões de rosto, e de intensificar as expressões vocais; a calma que você passa na hora de falar é importante, se está ofegante, a expressão do que você quer de fato dizer... Então o que eu pude passar para esse trabalho foi isso, esses pensamentos de como expressar na voz tudo o que eu quero dizer. Foi um trabalho bem diferente, mas bem ousado e interessante.

De acordo com Thomás, o episódio Clericot, que navega pela complexidade da maternidade, poderia até mesmo mudar o modo como a sociedade e os homens enxergam o papel da mãe nos dias de hoje.

- Precisamos desmistificar essa questão de ser mãe, porque vivemos em uma sociedade muito machista e conservadora. Vários episódios têm essa temática no podcast, temas interessantíssimos, e o Clericot é um deles. Pelo que eu pude entender conversando com Cris [Bartis, a produtora executiva] e estudando sobre essa questão, as mulheres mães são muito castigadas. Precisam estar há dois anos, no mínimo, com o bebê, mas nessa sociedade a mãe perde oportunidades de emprego, às vezes é demitida, tem que voltar logo, após seis meses, ao trabalho... É praticamente uma tortura, né? E fora que o marido, falando sobre o homem em específico, não tem uma licença-maternidade tão disposta quanto a mãe, então ele não pode estar junto o que é necessário nesse crescimento. Então o que se desmistifica também nesse episódio é isso; acho que às vezes essa elucubração da mãe de poder querer viver um pouco mais, porque você de certa maneira fica presa, entre aspas, de um ser que precisa de todo um apoio seu. Você, de certa maneira, acaba vivendo para aquele ser. Então é muito triste o modo como a gente coloca a mãe na sociedade atual. Se nós homens víssemos a parceria como um completo, se entendêssemos que os dois são mães, de responsabilidades, com certeza isso iria mudar. Com certeza os direitos seriam diferentes.

Inclusive, as discussões podem e devem ser muito mais profundas do que são apresentadas. Em uma determinada parte de Clericot, Chico genuinamente avisa a personagem Lisbela, vivida por Miá Mello, que seu leite acabou vazando na camiseta. E aqui fica a questão: por que ter esse tipo de interação com uma lactante precisava ser incômodo? 

- Acho muito bom isso ser natural e acho que a intenção do podcast é tratar essas temáticas com leveza. Temos que desmistificar tudo, tratar o natural como natural. A sociedade, mais uma vez machista e conservadora, fez com que a amamentação fosse um tabu, e isso é uma coisa natural de se ver, uma mãe amamentando uma criança, um ser humano. E tem uma sexualização em relação a isso, o mercado pornográfico que trata isso, tem toda uma construção aí que a gente tem que ver. Mas a ideia do podcast é justamente desconstruir esses mitos que foram criados, para que a gente possa viver numa sociedade mais interessante, de igualdade. Talvez isso, mas não só isso, reduziria bastante os estupros, com a diminuição da sexualização do corpo feminino... Acho que a ideia do podcast é essa: desmistificar os mitos que envolvem a naturalidade das coisas. A gente tem que trabalhar isso, é muito forte que a gente possa pensar, refletir e conversar sobre. Acho que chegou o momento da gente transformar o mundo conservador em um mundo sociável, interessante, e partilhar dele, todo mundo igual, opina Thomás.

Por fim, o ator falou sobre o seu episódio favorito do programa.

- Um que mexeu muito comigo foi o Floradora. O Floradora traz uma sensibilidade muito grande, muito interessante, em detalhes, em riqueza, de como uma fruta pode trazer memórias afetivas e construtivas para o ser humano. Isso para mim foi muito importante, de ver como uma framboesa tem toda uma história familiar... É um episódio que, para mim, tem uma riqueza de sentimento através de uma memória, onde mexe com esse Chico, que é onde ele conta uma parte dele, e que transforma ele, querendo ou não. É um episódio muito bonito para mim. Às vezes a gente acaba perdendo esse sentimento; por exemplo, uma folha que cai e que alguém apanha pode se transformar em um grande filme, um papel higiênico que foi dobrado e alguém deu, pode ser um grande filme. A gente tem grandes filmes na nossa frente, a gente só não está escrevendo eles.

Entre as participações especiais de Sons & Drinks, estão nomes como Miá Mello, Jacqueline Sato, Denise Weinberg, Dagoberto Feliz e Lilian Blanc. O podcast já está disponível nas principais plataformas de streaming, como o Spotify e o Pocket Casts.