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Marcos Mion estreou na televisão há 20 anos e, desde então, mostra que não é um apresentador como outro qualquer. Conhecido como o maluco que zoava os músicos nos anos 2000 no Piores Clipes do Mundo, da MTV, ele foi ganhando espaço e fez o maior sucesso ao apresentar A Fazenda em 2018. Aos 39 anos de idade, ele dedica boa parte de seu tempo para promover causas pessoais que acabaram ganhando bastante repercussão. Uma das maiores delas está ligada a sua família e principalmente a Romeo, seu filho de 13 anos de idade, que tem autismo, assim com os momentos que compartilha ao lado da esposa Suzana Gullo e dos outros dois filhos, Donatella, de dez anos de idade, e Stefano, de nove. Em entrevista à Trip o ator falou sobre esses assuntos, começando ao relembrar o tempo em que fez história na MTV e chegou, inclusive, a vivenciar situações bastante constrangedoras e engraçadas. - O programa foi um YouTube antes de ele existir. Era ligar a câmera e sair falando, com a idade que tem que fazer isso – tinha 19, 20 anos. E a TV era diferente, era uma época de muita liberdade. Imagina na MTV, onde eles tinham que criar tendência? Não tinha internet e, mesmo assim, era aquela repercussão gigante, o assunto do dia seguinte. Não devia nada a ninguém e falava o que queria (...) Por um tempo na MTV eu fui chamado de 2 milhões. Isso há quase 20 anos (...) Foi uma perda de patrocínio de 2 milhões de dólares, que era o que praticamente sustentava a emissora. Aquilo era meu sonho, me dediquei ao máximo. E ninguém nunca tinha me falado: Evita falar dos patrocinadores. Respeita. Nem sabia que tinha patrocinador na TV. Então, um dia, estava analisando um clipe do Kiss, em que o Paul Stanley [vocalista e guitarrista] segurava um objeto que parecia o que o nosso patrocinador vendia – que ainda existe, por isso não vou falar a marca. E eu falava O que Paul Stanley está fazendo com essa coisa? Isso não serve para nada. Até parece que o cara do Kiss estaria usando essa m***a. E foi um barulho. Mas, vamos combinar, cadê alguém responsável nessa hora? A MTV era assim, não tem jeito, e o cliente cortou o patrocínio, foi um caos.
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Mion contou, ainda, como começou no teatro, apesar de toda a sua família ser de outra área e ele sendo o primeiro artista da turma. - Venho de uma família de médicos. Brinco que eu sou o único que deu errado, pois sempre tive gosto pelo palco. Na escola, lembro que me senti muito vivo ao encenar O gato de botas. Era uma brincadeira, até que um dia minha mãe falou: Vai fazer um curso. Você gosta, você tem jeito. E comecei a fazer Célia Helena, onde conheci a Lígia Cortez, a quem devo minha carreira. Ela me disse: Você vai continuar. Vai dar certo. Se não fosse ela, teria feito medicina e herdado um consultório.
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Outro ponto importante na vida de Mion foi a perda de um irmão quando o apresentador ainda era adolescente. Esse fato, aliás, é pouco mencionado por ele, sendo difícil até hoje abordar o assunto, como ele mesmo conta na entrevista: - Nunca vai ser fácil. A gente aprende a conviver, mas a ferida está sempre lá. Ainda é meio nebuloso para mim. Eu devia ter em torno de 13, 14 anos. Prefiro não entrar nos detalhes, mas meu irmão entrou na faculdade de medicina. Na comemoração, saiu com os amigos, teve um acidente e faleceu aos 18 anos. Sem dúvida, foi um divisor de águas na minha vida numa época que... Óbvio que isso acontece bastante, mas é cruel apresentar a morte para uma criança. Isso é uma das grandes pedras sobre a qual eu construí minha personalidade. Os efeitos foram devastadores, mas também benéficos, hoje consigo ver isso. Tudo o que fiz na vida foi para ser igual ao meu irmão. A única coisa que fiz por minha conta foi o teatro (...) Mas a verdade é que a minha mãe me colocou nesse curso de teatro para me tirar de casa depois de uma depressão violenta que eu estava vivendo com a morte do meu irmão. E mãe é mãe, né? Foi o que me trouxe para a vida, e falo também que, de certa forma, meu irmão me levou ao teatro. Então, tudo que faço na minha vida, tudo de que gosto, é ligado ao meu irmão, Marcelo (...) Cada um tem um tipo de reação, e a minha, em um primeiro momento, foi um amadurecimento gigantesco. Fui achar que poderia morrer a qualquer momento e, aos 13, 14 anos, nenhuma criança pensa nisso. Então, você muda a sua vida. Você ganha essa consciência, porque a gente pode mesmo morrer a qualquer momento. Lógico, mas isso não passa na cabeça de um pré-adolescente. É a época do Super-Homem, do vou pegar esse carro e dirigir muito louco, porque nada vai me acontecer. Soube cedo que não é só com os outros que acontece, então, muitas atitudes que tenho são resultado de eu ter perdido meu irmão tão cedo.
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Por falar em família, hoje em dia a que ele construiu ao lado de Suzana é o seu maior tesouro. Isso fez, até, com que ele escrevesse dois livros, sendo o primeiro dedicado ao autismo e o segundo sobre pai de meninas. - O primeiro foi o Escova de dentes azul, que escrevi explicando o autismo para as crianças. Percebi que quando a criança cresce com qualquer condição extraordinária por perto, ela cresce mais tolerante, de forma mais nobre e digna. Via as cartinhas que os amigos do Romeo escreviam para ele e pensava que eles seriam adultos legais, que sabem respeitar as diferenças. E vi que não tinha que escrever livro para adulto, mas para criança. Então, esse meu primeiro livro é pelo Romeo e pelos mais de dois milhões de crianças diagnosticadas com autismo. Essa é a missão, contou ele. Já sobre o livro Pai de menina ele falou: - Sou unha e carne com a Donatella, minha filha de 10 anos. Arrisco dizer que sou um bom pai, mas pai de menina é uma coisa que aprendi a surfar. Porque você tem que entrar no universo dela, e nunca tive problema com minha sensibilidade, com meu lado feminino. Aí fiz um post contando que uma vez por semana saio só com ela, para ela entender o que é ser bem tratada. Foi uma comoção. As pessoas me paravam não mais para falar sobre o Legendários, mas sobre a relação com a minha filha, e comecei a ver que a maioria dos homens não estava muito bem nesse papel de pai de menina. E o livro foi o início desse movimento por pais mais presentes. Mas ele serve para menina e menino, porque é sobre criar caráter. Ele é para você criar um elo, porque acredito que é na primeira infância que você cria o resto da vida que vai ter com seu filhos e eles vão ter com você.
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E por falar nos filhos, ele se derrete ao falar dos pequenos: - Minha família é a coisa mais importante. Pensei em ser pai pela primeira vez quando cortei meu bolo de aniversário de 16. Queria passar adiante quem sou. Sempre tive uma bagagem diferente da idade que tinha. Perdi várias namoradas porque queria tanto ter filho e elas iam embora. Eu tinha realmente que encontrar a Suzana, que pensava como eu. A gente, com seis meses de namoro, estava tendo filho e casando.
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Quanto a Romeo, que é um dos pilares da sua vida, Mion conta como foi a chegada do menino à sua vida e fala do orgulho que tem do filho: - Ele foi a grande sorte da minha vida, minha maior benção, porque aquele moleque, naquele momento... Ele nasceu prematuro... Você tem noção do que é segurar uma vida humana na palma da mão? Se a sua vida não muda nesse momento, meu amigo, não vai mudar nunca mais. E, por conta do Romeo ter vindo primeiro, isso me moldou. Cara, eu sou muito elogiado pela forma que crio meus outros dois filhos, mas é que, para mim, a primeira experiência foi sob a ótica do autismo para todas as situações, e isso te dá muita casca. Aliás, acho que tudo o que construí na minha carreira, que me fez ter visibilidade e o poder do microfone, tenho certeza de que foi para poder dar voz ao meu filho e ao autismo.
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Mas se você pensa que é só, está muito enganado. À Trip, Mion ainda abriu o jogo sobre a musculação, atividade física na qual mergulhou fundo e que admira desde pequeno: - No meu quarto de moleque, do lado dos pôsteres do Bob Marley e do Menudo, tinha um do Stallone e um do Schwarzenegger. Fui uma criança gordinha, então, achava aquilo o máximo. E sempre fiz esporte. Em torno dos 32, 33 anos, via os fisiculturistas na academia e falei para minha mulher: Su, não quero morrer sem saber como é a vida do Schwarzenegger, do Stallone. Quero experimentar. Quando ela me incentivou, acho que não tinha noção do que seria (...) Cheguei ao ponto de ir jantar na casa de amigos e levar marmita. Não é exagero, isso aqui é um esporte que tem duas características principais: a constância, porque você tem que manter uma frequência, e o tempo, já que a maturidade muscular é necessária. É um esporte edificante, o meu drive de fazer as coisas acontecerem. Você nunca vai conseguir carregar todo o peso do mundo, então, todo dia vai encontrar seu limite. E o que você vai fazer? Vai tentar de novo. O peso não vai ficar mais leve, você que vai ficar mais forte até a hora que conseguir levantar. E isso é uma filosofia que pode ser aplicada em qualquer setor da sua vida. Então, levava marmita para jantar na casa de amigos, no cinema – mas isso parei, porque fica um cheiro horrível e imaginei que as pessoas estavam chateadas. Imagina um marmitão de frango no meio do cinema?
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