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Publicada em 26/07/2019 às 15:16 | Atualizada em 26/07/2019 às 15:52

Em cartaz no que seria seu melhor trabalho, Matheus Nachtergaele fala sobre carreira e A Serpente: - Sou um aprendiz de palhaço

O ator também falou sobre a experiência de trabalhar com Lucélia Santos na obra de Nelson Rodrigues

Carolina Rocha

Divulgação

Com mais de 30 anos de carreira, Matheus Nachtergaele está de volta aos cinemas no filme A Serpente, baseado na primeira obra do dramaturgo Nelson Rodrigues, mas a última a ser publicada, em 1978. No longa, Nachtergaele interpreta Paulo, um homem disputado por duas irmãs gêmeas, personagens de Lucélia Santos. E em entrevista ao ESTRELANDO, o ator confessou que a sua relação com A Serpente vai muito mais além do que o período que passou nos estúdios, transformando a peça em mais uma grande aposta do cinema nacional. 

- Eu acho que a abertura do filme é maravilhosa. E o desenrolar é muito ágil, concentrado e surpreendente. A Serpente foi a primeira peça que o Nelson Rodrigues esboçou, e a última que ele publicou. Ou seja: A Serpente deve ser, para o Nelson, uma espécie de casulo onde vive a borboleta dele. Me parece que ela é um prenúncio, ou de uma certa maneira, um resumo das paixões em Nelson Rodrigues. Esse filme é uma grande homenagem: primeiro por estar filmando essa, que foi a primeira e a última peça dele, segundo por ter a Lucélia fazendo as duas mulheres do filme. [...] O filme tem um lançamento pequeno. Ele vai estrear em breve no Canal Brasil e a gente está fazendo questão de mostrar nas salas de cinema antes de entrar no canal a cabo para as pessoas terem a experiência de ver no telão. Não só o nosso filme, que é lindo, mas principalmente, na minha opinião, a interpretação magistral, arriscada da Lucélia Santos. A Lucélia vai sem rede de segurança. Ela vai para o risco. 

Foi Nachtergaele, inclusive, que sugeriu a participação de Lucélia na obra.

- A Lucélia efetivamente foi a atriz preferida do Nelson. Isso é difícil falar, porque parece que a gente esta falando em nome dele. Mas isso é verdade, ele declarava isso. E muitas vezes dizia Eu nem sei se é uma grande atriz, só sei que é um animal cênico. Interessava muito ao Nelson essa faceta dupla que a Lucélia tem, entre uma santa e uma p**a. Entre uma mãe e uma violência, sabe? Algo que pode ser maternal, mas também pode ser sexual. Para mim foi uma honra multiplicada à mil. Eu comecei a ser ator por causa da Lucélia Santos, ainda em Escrava Isaura, quando eu tinha oito anos de idade. Foi o que me chamou a atenção para o que é ser ator. Comecei a ir ao cinema, ainda menor de idade, nos anos 1980, para ver a Lucélia. Eu pedia para o meu pai me levar, e ele me levava, porque eu tinha que ir acompanhado. Com isso eu fui introduzido ao cinema brasileiro. A Lucélia me levou a sair de casa, ainda menino, para ver filmes brasileiros - e muitos eram adaptações de Nelson Rodrigues. E a primeira experiência teatral que eu tive na vida foi com Antunes Filho, no final dos anos 1980, na montagem Paraíso Zona Norte, no CPP, em São Paulo. Ele estava montando Nelson Rodrigues; era A Falecida e Os Sete Gatinhos, eram duas peças. E eu entrei para o grupo do Antunes e ensaiei oito meses com ele. Foi a primeira vez que fui tentar ser ator. Conheci o Nelson através do Antunes Filho, sob a perspectiva de vista do Antunes. Era uma peça que levava o Nelson ao nível do trágico; o Antunes compara o Nelson aos trágicos gregos. E assim eu fui formado. 

O ator também expressou a sua felicidade em ser chamado para um filme tão significativo, ainda mais para interpretar um personagem diferente do que ele costuma fazer. 

- A gente tem que se manter vivo. Eu amo muito o que eu faço, e eu sou desafiado a cada personagem, eu nunca me sinto garantido. Estou aqui para descobrir mesmo, eu sou um aprendiz de palhaço. E o Jura [Capela, diretor] me deu essa oportunidade bonita de fazer um tipo de personagem para o qual eu raramente sou chamado. Em geral, me chamam mais para uma coisa mais arlequinesca. Ou para comédia, ou para vilania. É raro um personagem, entre aspas, mais da masculinidade normal. E o Paulo é o homem masculino normal perdido na disputa entre duas mulheres - que obviamente, na visão do Jura, são as mesmas, de uma certa forma. Foi incrível e a minha maior alegria foi sair da sessão que a gente fez no Festival do Rio, e o Júlio Bressane, que é um cineasta que eu amo muito, um dos maiores cineastas de invenção do Brasil, me chamou para dizer É o teu melhor trabalho. Eu fiquei muito pimpão. Muito lindo, nessa altura da minha vida, 51 anos... Nem me importa se é verdade ou não. Eu acho que tem personagens lindos que eu fiz pela vida afora. De vez em quando, acontece a arte. A gente passa a vida fazendo personagens pra de quando encontro, ter um grande encontro - como aconteceu comigo no Jó [na peça O Livro de Jó], no João Grilo [no filme O Auto da Compadecida], algumas vezes, na verdade. E foi um momento bonito esse, de fazer esse filme pequeno, pelo ponto de vista do orçamento, da extensão (essa é a menor peça do Nelson, o filme tem 60 minutos), não foi acrescentado nada ao texto do Nelson; e ao mesmo tempo tão homenageoso e precioso. Eu acho que o filme é uma pequena obra de arte. Eu gosto muito da Serpente

Nachtergaele também fez uma análise de duas características marcantes em A Serpente: o resgate à cultura teatral brasileira dos anos 1970 e, também, o fato do filme ser rodado em preto e branco. 

- Eu fiz alguns filmes em preto e branco. Um deles é bem bonito, se chama Febre do Rato. É do Cláudio Assis, com a fotografia em preto e branco do Walter Carvalho. Esse filme [A Serpente], obviamente, tem tanto a fotografia em preto e branco - nesse caso quem fez foi o Pablo Baião, que é o marido da Dira [Paes]. E também na arte, no figurino, acho que se procurou uma coisa bem clássica, para levar essa história um pouco para o tom da tragédia. Como a Lucélia é uma atriz de performance muito teatral, de tintas fortes, me parece que o meu lugar ali foi fazer uma ponte entre a teatralidade dela e o realismo que pontua mais o cinema contemporâneo. Eu procurava ser a ligação entre o que tem de teatral no filme - e o filme é muito teatral, tem muitas cenas que simplesmente poderiam ser feitas no palco, como teatro, o que é lindo - e fazer um link disso com o espectador mais acostumado com o cinema contemporâneo, que é o que eu faço, e que se aproxima com o docudrama. Porque esse filme não é documental. Não é como Cidade de Deus, onde eu transito entre a interpretação e a realidade. Ou como no trabalho que eu faço nos filmes do Cláudio Assis, em que existe um grau de naturalismo. Esse é um filme teatral e eu me sentia responsável em fazer um link com o espectador acostumado ao cinema que se faz hoje. Acho que deu certo. 

O artista não deixou de citar, ainda, o seu papel marcante em O Auto da Compadecida, de 1999, onde interpretou João Grilo. 

- É muito forte ainda. As crianças que não eram nascidas quando a gente estreou assistem ao filme, e me olham com o olho de quem está vendo o João Grilo, sabe? Acho que o Grilo é um personagem que depende de personagens muito fortes, desde a Idade Média. Esse servo maltratado, mas muito esperto. Esse emprego que está nos contos da Idade Média, nos contos de Lazarillo de Tormes da Espanha, ele está nas comédias de Molière, ele é um arlequino. O Suassuna abrasileirou esse arquétipo quando fez o Grilo. Então todos nós que fizemos o Auto, a gente fez com muito amor e com um sentimento de responsabilidade em sermos os intérpretes dos personagens do Auto da Compadecida para a televisão, porque a gente sabia o quanto era forte. Ficamos surpreendidos quando a série virou um filme e ainda sim fez sucesso, mesmo tendo sido estreada antes na TV. E a coisa se eternizou. Acho que quanto eu, quanto o Selton [Mello], a gente tem um sentimento muito bonito em relação a isso. Acho que a gente foi morar dentro do coração de cada brasileiro, pelas mãos do Ariano Suassuna e do Guel [Arraes, diretor]. As minhas lembranças são sempre as melhores. Eu sempre vejo o Auto, hoje em dia como espectador, e me divirto. É um tipo de honra ser o Grilo dessa versão. É uma alegria enorme saber que o Suassuna adorava esse Grilo. Ele realmente falava isso, que tinha adorado o Grilo e o Chicó da versão do Guel. Quando eu encontrava o Suassuna, ele sempre me abraçava como um pai abraça um filho. É só emoção, só coisas boas que o Auto me traz até hoje. E acho talvez, um pouco pretensiosamente, mas tenho a sensação de que ele é o filme responsável pelas pazes definitivas que o público brasileiro fez com o cinema. Acho que ele foi o pontapé final.

Nachtergaele também está em Cine Holliúdy, série da Rede Globo, como o prefeito Olegário

- Há muito tempo que a TV aberta não produzia algo com tanta qualidade de dramaturgia, de imagem, de direção e com tantos atores bons e desconhecidos, misturados com grandes comediantes. Essa coisa é muito bonita, quando todos os atores cearenses que fazem os filmes do Cine Holliúdy, 1 e 2 né, todos eles são protagonistas junto conosco, eu, Heloísa [Périssé], Leticia [Collin]. Mas são eles que trazem a história prévia do projeto, e eles são uma novidade para o grande público de televisão, né? Então isso traz um frescor, e ao mesmo tempo o público encontra os comediantes que ele gosta, como os convidados que a cada episódio aparecem: Ney Latorraca, Miguel Falabella, Ingrid Guimarães, enfim, tivemos um grupo de convidados maravilhoso. A Globo já está começando a trabalhar na próxima temporada, isso é um fato. Eu adoro fazer o personagem, o Olegário é inspirado livremente no Dias Gomes, no Odorico Paraguaçu. É um personagem lindo, é o sujeito que quer tudo para si. É um político sem nenhuma vocação política. Ao mesmo tempo, o herói é malandro. Então nós temos um herói malandro e um vilão carismático, com um grupo de atores maravilhosos que vem do cinema e do teatro cearense, renovando a cara do elenco dentro da Rede Globo, e atores de comédia maravilhosos, grandes atores. Olha quanta honra eu tenho na vida. Eu adoro fazer o Olegário, acho que é um bom trabalho meu.

Abaixo, assista ao trailer e ao making of de A Serpente:




A Serpente estreou no dia 24 de julho na Estação NET, no Rio de Janeiro, e será exibido no dia 15 de agosto em São Paulo no CineSesc São Paulo. Ainda em São Paulo, haverá uma sessão especial seguida de debate com o ator no dia 16 de agosto, às 19 horas, no mesmo local. Já no dia 22 de agosto, o longa estreará no Cinema São Luiz, em Recife, além de estar na programação do Canal Brasil

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Em cartaz no que seria <I>seu melhor trabalho</I>, Matheus Nachtergaele fala sobre carreira e <I>A Serpente</I>: <I>- Sou um aprendiz de palhaço</I>

Em cartaz no que seria seu melhor trabalho, Matheus Nachtergaele fala sobre carreira e A Serpente: - Sou um aprendiz de palhaço

26/Abr/

Com mais de 30 anos de carreira, Matheus Nachtergaele está de volta aos cinemas no filme A Serpente, baseado na primeira obra do dramaturgo Nelson Rodrigues, mas a última a ser publicada, em 1978. No longa, Nachtergaele interpreta Paulo, um homem disputado por duas irmãs gêmeas, personagens de Lucélia Santos. E em entrevista ao ESTRELANDO, o ator confessou que a sua relação com A Serpente vai muito mais além do que o período que passou nos estúdios, transformando a peça em mais uma grande aposta do cinema nacional. 

- Eu acho que a abertura do filme é maravilhosa. E o desenrolar é muito ágil, concentrado e surpreendente. A Serpente foi a primeira peça que o Nelson Rodrigues esboçou, e a última que ele publicou. Ou seja: A Serpente deve ser, para o Nelson, uma espécie de casulo onde vive a borboleta dele. Me parece que ela é um prenúncio, ou de uma certa maneira, um resumo das paixões em Nelson Rodrigues. Esse filme é uma grande homenagem: primeiro por estar filmando essa, que foi a primeira e a última peça dele, segundo por ter a Lucélia fazendo as duas mulheres do filme. [...] O filme tem um lançamento pequeno. Ele vai estrear em breve no Canal Brasil e a gente está fazendo questão de mostrar nas salas de cinema antes de entrar no canal a cabo para as pessoas terem a experiência de ver no telão. Não só o nosso filme, que é lindo, mas principalmente, na minha opinião, a interpretação magistral, arriscada da Lucélia Santos. A Lucélia vai sem rede de segurança. Ela vai para o risco. 

Foi Nachtergaele, inclusive, que sugeriu a participação de Lucélia na obra.

- A Lucélia efetivamente foi a atriz preferida do Nelson. Isso é difícil falar, porque parece que a gente esta falando em nome dele. Mas isso é verdade, ele declarava isso. E muitas vezes dizia Eu nem sei se é uma grande atriz, só sei que é um animal cênico. Interessava muito ao Nelson essa faceta dupla que a Lucélia tem, entre uma santa e uma p**a. Entre uma mãe e uma violência, sabe? Algo que pode ser maternal, mas também pode ser sexual. Para mim foi uma honra multiplicada à mil. Eu comecei a ser ator por causa da Lucélia Santos, ainda em Escrava Isaura, quando eu tinha oito anos de idade. Foi o que me chamou a atenção para o que é ser ator. Comecei a ir ao cinema, ainda menor de idade, nos anos 1980, para ver a Lucélia. Eu pedia para o meu pai me levar, e ele me levava, porque eu tinha que ir acompanhado. Com isso eu fui introduzido ao cinema brasileiro. A Lucélia me levou a sair de casa, ainda menino, para ver filmes brasileiros - e muitos eram adaptações de Nelson Rodrigues. E a primeira experiência teatral que eu tive na vida foi com Antunes Filho, no final dos anos 1980, na montagem Paraíso Zona Norte, no CPP, em São Paulo. Ele estava montando Nelson Rodrigues; era A Falecida e Os Sete Gatinhos, eram duas peças. E eu entrei para o grupo do Antunes e ensaiei oito meses com ele. Foi a primeira vez que fui tentar ser ator. Conheci o Nelson através do Antunes Filho, sob a perspectiva de vista do Antunes. Era uma peça que levava o Nelson ao nível do trágico; o Antunes compara o Nelson aos trágicos gregos. E assim eu fui formado. 

O ator também expressou a sua felicidade em ser chamado para um filme tão significativo, ainda mais para interpretar um personagem diferente do que ele costuma fazer. 

- A gente tem que se manter vivo. Eu amo muito o que eu faço, e eu sou desafiado a cada personagem, eu nunca me sinto garantido. Estou aqui para descobrir mesmo, eu sou um aprendiz de palhaço. E o Jura [Capela, diretor] me deu essa oportunidade bonita de fazer um tipo de personagem para o qual eu raramente sou chamado. Em geral, me chamam mais para uma coisa mais arlequinesca. Ou para comédia, ou para vilania. É raro um personagem, entre aspas, mais da masculinidade normal. E o Paulo é o homem masculino normal perdido na disputa entre duas mulheres - que obviamente, na visão do Jura, são as mesmas, de uma certa forma. Foi incrível e a minha maior alegria foi sair da sessão que a gente fez no Festival do Rio, e o Júlio Bressane, que é um cineasta que eu amo muito, um dos maiores cineastas de invenção do Brasil, me chamou para dizer É o teu melhor trabalho. Eu fiquei muito pimpão. Muito lindo, nessa altura da minha vida, 51 anos... Nem me importa se é verdade ou não. Eu acho que tem personagens lindos que eu fiz pela vida afora. De vez em quando, acontece a arte. A gente passa a vida fazendo personagens pra de quando encontro, ter um grande encontro - como aconteceu comigo no Jó [na peça O Livro de Jó], no João Grilo [no filme O Auto da Compadecida], algumas vezes, na verdade. E foi um momento bonito esse, de fazer esse filme pequeno, pelo ponto de vista do orçamento, da extensão (essa é a menor peça do Nelson, o filme tem 60 minutos), não foi acrescentado nada ao texto do Nelson; e ao mesmo tempo tão homenageoso e precioso. Eu acho que o filme é uma pequena obra de arte. Eu gosto muito da Serpente

Nachtergaele também fez uma análise de duas características marcantes em A Serpente: o resgate à cultura teatral brasileira dos anos 1970 e, também, o fato do filme ser rodado em preto e branco. 

- Eu fiz alguns filmes em preto e branco. Um deles é bem bonito, se chama Febre do Rato. É do Cláudio Assis, com a fotografia em preto e branco do Walter Carvalho. Esse filme [A Serpente], obviamente, tem tanto a fotografia em preto e branco - nesse caso quem fez foi o Pablo Baião, que é o marido da Dira [Paes]. E também na arte, no figurino, acho que se procurou uma coisa bem clássica, para levar essa história um pouco para o tom da tragédia. Como a Lucélia é uma atriz de performance muito teatral, de tintas fortes, me parece que o meu lugar ali foi fazer uma ponte entre a teatralidade dela e o realismo que pontua mais o cinema contemporâneo. Eu procurava ser a ligação entre o que tem de teatral no filme - e o filme é muito teatral, tem muitas cenas que simplesmente poderiam ser feitas no palco, como teatro, o que é lindo - e fazer um link disso com o espectador mais acostumado com o cinema contemporâneo, que é o que eu faço, e que se aproxima com o docudrama. Porque esse filme não é documental. Não é como Cidade de Deus, onde eu transito entre a interpretação e a realidade. Ou como no trabalho que eu faço nos filmes do Cláudio Assis, em que existe um grau de naturalismo. Esse é um filme teatral e eu me sentia responsável em fazer um link com o espectador acostumado ao cinema que se faz hoje. Acho que deu certo. 

O artista não deixou de citar, ainda, o seu papel marcante em O Auto da Compadecida, de 1999, onde interpretou João Grilo. 

- É muito forte ainda. As crianças que não eram nascidas quando a gente estreou assistem ao filme, e me olham com o olho de quem está vendo o João Grilo, sabe? Acho que o Grilo é um personagem que depende de personagens muito fortes, desde a Idade Média. Esse servo maltratado, mas muito esperto. Esse emprego que está nos contos da Idade Média, nos contos de Lazarillo de Tormes da Espanha, ele está nas comédias de Molière, ele é um arlequino. O Suassuna abrasileirou esse arquétipo quando fez o Grilo. Então todos nós que fizemos o Auto, a gente fez com muito amor e com um sentimento de responsabilidade em sermos os intérpretes dos personagens do Auto da Compadecida para a televisão, porque a gente sabia o quanto era forte. Ficamos surpreendidos quando a série virou um filme e ainda sim fez sucesso, mesmo tendo sido estreada antes na TV. E a coisa se eternizou. Acho que quanto eu, quanto o Selton [Mello], a gente tem um sentimento muito bonito em relação a isso. Acho que a gente foi morar dentro do coração de cada brasileiro, pelas mãos do Ariano Suassuna e do Guel [Arraes, diretor]. As minhas lembranças são sempre as melhores. Eu sempre vejo o Auto, hoje em dia como espectador, e me divirto. É um tipo de honra ser o Grilo dessa versão. É uma alegria enorme saber que o Suassuna adorava esse Grilo. Ele realmente falava isso, que tinha adorado o Grilo e o Chicó da versão do Guel. Quando eu encontrava o Suassuna, ele sempre me abraçava como um pai abraça um filho. É só emoção, só coisas boas que o Auto me traz até hoje. E acho talvez, um pouco pretensiosamente, mas tenho a sensação de que ele é o filme responsável pelas pazes definitivas que o público brasileiro fez com o cinema. Acho que ele foi o pontapé final.

Nachtergaele também está em Cine Holliúdy, série da Rede Globo, como o prefeito Olegário

- Há muito tempo que a TV aberta não produzia algo com tanta qualidade de dramaturgia, de imagem, de direção e com tantos atores bons e desconhecidos, misturados com grandes comediantes. Essa coisa é muito bonita, quando todos os atores cearenses que fazem os filmes do Cine Holliúdy, 1 e 2 né, todos eles são protagonistas junto conosco, eu, Heloísa [Périssé], Leticia [Collin]. Mas são eles que trazem a história prévia do projeto, e eles são uma novidade para o grande público de televisão, né? Então isso traz um frescor, e ao mesmo tempo o público encontra os comediantes que ele gosta, como os convidados que a cada episódio aparecem: Ney Latorraca, Miguel Falabella, Ingrid Guimarães, enfim, tivemos um grupo de convidados maravilhoso. A Globo já está começando a trabalhar na próxima temporada, isso é um fato. Eu adoro fazer o personagem, o Olegário é inspirado livremente no Dias Gomes, no Odorico Paraguaçu. É um personagem lindo, é o sujeito que quer tudo para si. É um político sem nenhuma vocação política. Ao mesmo tempo, o herói é malandro. Então nós temos um herói malandro e um vilão carismático, com um grupo de atores maravilhosos que vem do cinema e do teatro cearense, renovando a cara do elenco dentro da Rede Globo, e atores de comédia maravilhosos, grandes atores. Olha quanta honra eu tenho na vida. Eu adoro fazer o Olegário, acho que é um bom trabalho meu.

Abaixo, assista ao trailer e ao making of de A Serpente:




A Serpente estreou no dia 24 de julho na Estação NET, no Rio de Janeiro, e será exibido no dia 15 de agosto em São Paulo no CineSesc São Paulo. Ainda em São Paulo, haverá uma sessão especial seguida de debate com o ator no dia 16 de agosto, às 19 horas, no mesmo local. Já no dia 22 de agosto, o longa estreará no Cinema São Luiz, em Recife, além de estar na programação do Canal Brasil