Johnny Massaro protagoniza Os Primeiros Soldados e fala da experiência de interpretar um personagem portador de HIV
29/Mar/
Johnny Massaro recentemente viveu uma nova fase em sua carreira: o ator estrelou o filme Os Primeiros Soldados, que será exibido no Festival do Rio, no Rio de Janeiro, até este domingo, dia 19. A trama se passa no ano de 1983, em Vitória, no Espírito Santo, durante a primeira onda da epidemia de AIDS. Na história, Massaro interpreta Suzano, um portador de HIV, e em entrevista exclusiva ao ESTRELANDO ele deu mais detalhes sobre a experiência.
Para dar vida ao personagem, o artista precisou emagrecer mais de dez quilos, o que foi um grande desafio.
- O processo de emagrecimento acabou estruturando não só meu cotidiano, como também meu estado de espírito. Meus únicos pedidos para a produção foram um lugar onde eu pudesse cozinhar e um filtro de barro. Tudo que entrou no meu corpo passava pelas minhas mãos, já que eu mesmo cozinhava. Foram duas semanas de jejuns diários de 14 horas. Mas eu sabia que, apesar de precisar aparentar fraqueza, precisava estar disposto para o trabalho. Para isso, contei com o acompanhamento de uma nutricionista muito consciente e maravilhosa. Foi com certeza uma oportunidade gigante de aprender sobre mim mesmo. Experiências que nem todos os personagens proporcionam e que Suzano, sem dúvidas, me deu.
Apesar de o filme abordar um assunto difícil, segundo Johnny, a garra dos protagonistas trouxe uma certa leveza para as gravações.
- O filme é naturalmente denso, não só porque o começo da epidemia de HIV foi muito trágico, mas sobretudo porque mostra como somos frágeis. Por mais que tentemos não admitir, nós precisamos dos outros. No set do filme, existia esse pacto silencioso, mas nítido. Ao mesmo tempo, a leveza permeava tudo, porque aquelas personagens gostavam muito da vida. Por isso lutavam com tanta graça por ela.
A relação entre Massaro e o diretor Rodrigo de Oliveira também foi essencial para o resultado final do trabalho.
- Seria impossível não falar do Rodrigo, a doce, profunda e estranha figura onde tudo isso inicia. Quando o diretor e o ator conseguem estabelecer uma relação de extrema confiança e intimidade, eles podem se comunicar sem palavras. Sinto que a minha relação com o Rodrigo foi um desses casos. Eu brinco com o Rodrigo dizendo que só aceitei fazer o filme porque tinha fogos de artificio. Claro que isso é uma piada, mas de certa forma traduz minha sensação ao ler o roteiro: porque é sobre esperança, é sobre querer estar na vida, o que não é simples. Aliás, é impossível não lembrar Caetano, cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é. E isso estava ali, explica.
Por fim, o astro de Verdades Secretas 2 ressalta a importância de conversar sobre a temática e de ter interpretado Suzano .
- Como o Rodrigo disse em um debate no filme lá na Alemanha, a AIDS é algo que sempre ronda o imaginário LGBTQIA+. Felizmente o vírus já não é uma sentença de morte. Infelizmente, contudo, nem a epidemia nem a homofobia são chagas superadas. Senti-me particularmente compelido a dar corpo e voz ao Suzano, para ampliar o debate, aprender o que desconhecia, atualizar o discurso e ajudar a dissipar preconceitos, em mim mesmo e em quem for nos assistir.
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