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Publicada em 25/07/2022 às 00:00 | Atualizada em 22/07/2022 às 14:00

Lorena Comparato fala sobre interpretar papéis complexos e reflete: -Eu empresto muito da minha vida para as minhas personagens

A atriz mergulhou no universo de suas personagens e contou como é seu processo de preparação para interpretá-las

Sarah Melchior

Divulgação-Thais Berlinsky

Lorena Comparato tem uma vida para lá de agitada, e não é para menos. Só em 2022 a atriz está em quatro produções diferentes: Impuros e Não Foi Culpa Minha, do Star+, e Rensga Hits e Cine Holliúdy, do Globoplay. Mesmo atarefada, ela conseguiu um tempinho entre uma gravação e outra para falar com o ESTRELANDO

Começamos a conversa falando sobre cabelos - a atriz já usou os mais diferentes tons, cortes e estilos para dar vida a suas personagens.

- Minha assessora fala: Vamos usar aquelas fotos, mas qual, a que você está loira, a que você está ruiva, a que você está com cabelo longo, a que você está com franja. São mil faces. Meu namorado já está acostumado, ele sabe que namora uma pessoa que é mil pessoas e eu amo isso, eu falo para ele: Se prepara, eu quero raspar cabelo, quero fazer de tudo na minha vida.

Com tantas personagens diferentes umas das outras, foi quase um desafio para ela definir qual cabelo foi seu preferido:

- Ai, que difícil. Confesso que quando eu fico ruiva, eu fico muito feliz, acho muito bonito. Mas não sei, eu realmente gosto muito de todos os cabelos que eu tive. Quando eu nasci eu não tinha cabelo nenhum e fiquei assim até os dois anos de idade. Minha mãe grudava lacinho na minha cabeça com sabonete. Então para mim, ter qualquer cabelo é uma grande emoção. Eu sinto que cada hora eu tenho uma coisa boa, por exemplo, a Abigail de Pé na Cova, eu tinha cabelo até a cintura. E eram tictacs que a gente colocava, eu ficava batendo cabelo e era muito gostoso. Na primeira temporada de Impuros eu tinha um cabelo crespo, loiro, até a cintura e de tictac também. Então assim, cabelos que eu mais amei provavelmente são os mais longos e mais cheios, então a Abigail, a Gláucia em Rensga Hits que eu estava com ele ruivo e longo para mim foi realmente o ápice. Se eu fosse escolher um acho que seria o cabelo da Gláucia. Pensando agora, porque eu nunca tinha pensado nisso.

A atriz também brincou sobre apesar de tudo ser para um papel, quando está caracterizada, ela quer acreditar que aquilo é real.

Eu sou uma pessoa que eu gosto de falar desse faz de conta e eu gosto mesmo de expôr, porque eu acho que fica uma cobrança. Eu por exemplo tenho cabelo ralo, aí eu vejo essas mulheres na televisão e eu fico assim: Que cabelo perfeito! Eu tenho uma anedota minha de quando eu era bebêzinha, vendo comercial na televisão, e eu falava: Mãe, eu quero esse shampoo. E era assim: Seu cabelo dez vezes mais longo, dez vezes mais cheio, dez vezes mais volumoso. Aí minha mãe, educadora, linda, falava: Filha, você não pode acreditar em tudo que você vê na televisão. Aí eu olhava para ela e falava: Eu quero acreditar. Então esse faz de conta, eu quero acreditar. Eu acho muito legal que eu vou botar um tictac no cabelo, uma unha falsa e eu quero acreditar que aquilo ali é meu, sabe? 

Para Lorena, esse desejo em acreditar inclusive a ajuda a fazer tudo parecer tão real.

- Eu tenho duas convicções que você vai falar: Lorena, você está doida, são opostas essas convicções. Uma é de que a arte copia a vida e a vida copia a arte, e ao mesmo tempo eu tenho uma convicção que arte e vida são coisas completamente diferentes. Então quando eu estou atuando é mentirinha, é faz de conta. Eu não tenho que me machucar de verdade, mesmo eu me jogando, eu sendo uma pessoa que está ali de verdade. Eu sou uma atriz muito entregue. Essa semana, eu tinha que subir em um telhado, e eu queria subir, oito metros de altura. E as pessoas do trabalho só: Não pode, seguro de vida, segurança. E eu ali: Me leva, eu quero ir. Aí eles fizeram um telhado mais baixinho para eu subir. Ficou pronto e eu já estava lá descalça subindo na telha e eles: Lorena, calma, pelo amor de Deus. E eu: Não, vamos lá, radical. Então como eu sou essa atriz muito entregue, parece que naquele momento eu acredito que aquilo ali é verdade, mas tem um lado muito importante, e até, vou ser bem direta ao ponto, para a minha sanidade, eu tenho que saber que aquilo ali é mentira, e que a minha vida é minha vida, porque eu sinto que quando mistura é que é o grande perigo para o artista às vezes. Não estou falando que quem mistura faz mal, mas sim que quando mistura às vezes seu personagem pode te contaminar demais.

Falando em ter consciência de que o que faz é mentira, Lorena, que é sempre tão entregue ao que faz e adora abraçar personagens mais densas, explica que é realmente necessário um preparo para conseguir separar a atriz da personagem.

- Eu acho muito sagrada a preparação e o pós. No pré sou eu tirando as minhas joias, minha roupa, até roupa de baixo, eu uso o sutiã de uma personagem. Todo esse momento de eu fazer o cabelo, a caracterização, mesmo que não seja nada, eu já fiz muitas personagens que eram sem nada de maquiagem, mas só a troca da roupa já é um ritual para você entrar naquilo. Já o pós sou eu tirando as coisas da personagem e botando minha roupa de volta. Esses rituais para mim são muito importantes para delimitar o que é personagem e o que sou eu. Só que também tem um limite sonoro muito bom, que é o Ação e o Corta. Parece que quando eu boto a roupa do personagem eu entro em um limbo entre eu e ela. Quando vem um Ação, é só personagem. A Lorena está ali, claro, mas parece que desce um negócio, uma coisa bem ritualística. E aí quando vem o Corta eu também paro, só que eu ainda estou no limbo, eu não voltei para a Lorena, só quando eu me desarrumo eu volto para cá. E eu gosto que meus personagens me contaminam, então assim, estou fazendo o Cine Holiudy, aí no meu carro tem um chapeuzinho de cangaceiro, as roupas que eu estou usando são mais coloridas, uns vestidinhos. A Formosa, minha personagem, é muito no chão, então estou usando mais sapatos baixos, e eu sei que as pessoas acham tudo isso que eu estou falando bem loucura, mas eu sinto que me ajuda a compôr. E pode não estar escrito que eu usei vestido florido durante todo o período de gravações, mas eu sinto que o sentimento passa, as vivências passam.

Toda essa construção e lições que a atriz carrega são coisas que ela veio aprendendo ao longo dos anos. Além de trabalhar em filmes e séries, ela também já sentiu um gostinho de como é fazer novela ao atuar em Um Lugar ao Sol. Apesar de terem sido apenas dois episódios, ela sonha em um dia fazer uma novela das nove.

- Nossa é meu sonho. Queria fazer uma dessas personagens que mudam o Brasil, sabe? Uma Carminha da vida, eu acho muito incrível, genial, me vêm várias mulheres na cabeça de personagens muito fortes, tipo Amor de Mãe, quem não acompanhou a história inteira da Regina Casé? Eu acho que são esses lugares que você fica muito atravessada, porque pode não te representar, mas representa uma tia, uma amiga, uma amiga da sua tia, sua mãe, e é muito louco. E eu gosto de personagens que são verticais, que são interessantes. Ela não é só mocinha e nem só vilã. Eu gosto de vilã que você se interessa por ela. Eu gosto de mocinha que tem um quê de maldade também. Porque são pessoas humanas, e a gente é assim, temos coisas ruins também. Então se eu pudesse fazer uma personagem maneira, complexa, eu adoro falar de questões da sociedade, de tudo, de saúde mental a vivências, a dores, dificuldades, denúncias. Mas eu também não posso deixar de dizer personagens engraçados das novelas das nove. A Isis Valverde no início da carreira fez umas piriguetes geniais, umas jovens mais livres que eu acho muito interessantes também. 

E para alcançar seus sonhos, Lorena enxerga que o processo é lento, e nada vem da noite para o dia.

- Eu entendi muito cedo que na minha carreira é um passo de cada vez. É de grão em grão que a galinha enche o papo mesmo. Eu acho lindo a carreira de algumas pessoas que muda da noite para o dia, mas mesmo para essas pessoas, não foi tão da noite para o dia assim. Você pega o Douglas Silva, o DG, com quem eu fiz Samantha da Netflix. Ele é um cara que eu admiro para caramba, fez Cidade de Deus, Cidade dos Homens, ele ganhou uma visibilidade agora com o BBB que não foi da noite para o dia, esse cara está trabalhando desde criança, sabe? Então eu acho que tem uma construção do artista que realmente, se a pessoa quer ser artista, tem que saber que é muito devagar, é literalmente um passo de cada vez e às vezes passo de formiga, mas vai. 

Falando em papéis, personagens e carreira, Lorena conversou com o ESTRELANDO durante o intervalo das gravações da terceira temporada de Cine Holliúdy, e questionada sobre como estão as gravações, ela falou super empolgada:

Ai, muito legais, eu estou muito feliz de estar fazendo Cine Holliúdy, é uma série muito emocionante de estar com a galera do Ceará, a gente foi para Quixadá filmar, ficamos lá um tempo e aí eu pedi para a produção para eu ficar em Fortaleza mais um dia, porque eu realmente precisava passear lá, ver gente, estar um pouco no Ceará mesmo estando muito próxima da galera do Ceará aqui. Foi muito bom para mim olhar, sentir a energia do lugar para ter essa representação. Eu sou do sudeste, então é uma responsabilidade muito grande fazer uma personagem do Ceará, e eu quero fazê-la com respeito, com muita honra, mas muito respeito acima de tudo.

Em seguida, ela foi chamada pela produção para voltar às gravações, mas quis continuar a entrevista mesmo assim e nos levou para dar uma volta de carrinho pelos Estúdios Globo por chamada de vídeo enquanto conversávamos sobre a série. 

- Cine Holliúdy tem uma estrutura muito maneira porque eu comecei fazendo uma participação na primeira temporada. E a minha personagem, a Formosa, filha do Lindoso e da Belinha, feitos pelo Carri Costa e a Solange Teixeira, ela acabou ficando, então esse episódio que eu fiz encantou a galera. Eu fiquei muito contente e honrada disso ter acontecido, de eu ter conquistado esse lugar de certa forma. É muito emocionante para você como atriz e a galera falar: A gente quer você para a próxima temporada toda, e eu estar em todos os episódios. Eu também queria elogiar, porque estou muito emocionada com o elenco, a equipe, todos são muito legais e nessa temporada a Luiza Raz entrou para o elenco, ela é a mocinha, digamos assim, e já chegou com o pé na porta, é uma honra enorme estar trabalhando com ela, temos uma troca muito grande dentro e fora de cena. E estreia agora, em agosto! Vai ser muito gostoso porque vamos estar gravando a terceira temporada e assistindo a segunda na televisão. 

E afinal de contas, em meio a toda a correria de gravações, como arranjar a energia necessária para cumprir com todos os compromissos?

- Todos os meus dias são bastante corridos. Eu gosto muito de aproveitar a vida e de fazer muitas coisas. Acho que isso é da minha personalidade. Tenho muita energia e desde pequena dificuldade para dormir. Perguntava pra minha mãe: Para que dormir? Como sou portadora do transtorno de TDAH a hiperatividade sempre esteve na minha vida. Quero sempre fazer tudo. Faço muitas coisas ao mesmo tempo, mas essa energia toda as vezes cansa então tenho me policiado a tomar tempo pra descansar porque se deixar eu não paro. Hoje vejo a importância do clássico: comer bem, dormir bem e fazer exercício físico, o difícil para mim é ter frequência, mas o pilates online tem me salvado. Cada dia meu é muito diferente do outro e eu gosto disso, mas mesmo quando vivo numa rotina gosto das surpresas de cada dia.

Conciliar a vida profissional com a pessoal também acaba muitas vezes se tornando um grande desafio: 

- É muito difícil conciliar as gravações com os outros compromissos, principalmente pelo fato das gravações não terem horários fixos. Sempre peço paciência das pessoas porque a qualquer hora tudo pode mudar. Eu acabo marcando muita coisa provisoriamente e aceitando que artista não tem hora. Perco eventos, aniversários, encontros, principalmente porque na maioria do tempo trabalho no final de semana: ou gravando ou em cartaz. O que mais me ajuda é ter agenda. Tento me policiar a colocar meus horários e me manter organizada mas a maioria das pessoas a minha volta já sabe que possivelmente eu vou desmarcar ou chegar bastante atrasada.

Também perguntamos para a atriz se ela acha que suas vivências acabam transferindo para as personagens que faz:

- Com certeza. Já começo logo pela Priscila, minha personagem no Não Foi Minha Culpa, ela está ali na pandemia com o Fernando, namorado dela, e ele mostra sinais de agressividade, mas ela sempre com o véu do apaixonamento não consegue ver essa tendência a violência dele, e eu acho que é nesse lugar que a gente tem que se cuidar, essas pessoas precisam de tratamento. Eu transferi muitas dores para a Priscila, acho que meu processo com a direção da série foi muito incrível. A Suzana Lira e o Márcio Schoenardie foram muito cuidadosos, e a maioria das pessoas na equipe serem mulheres foi um lugar também muito legal e delicado para fazermos uma série tão profunda assim. E eu não posso mentir que as companhias no set, Maria da Paixão, minha irmã, Bianca Comparato, o Armando Babaioff, foram companheiros muito grandes que fizeram a gente explorar essas dores muito verticais e não sair de lá tão machucada, mas eu acho que essa série ficou muito comigo. E eu fui direto fazer a Gláucia do Rensga Hits, que é uma personagem que tem muitas dores, eu sinto que meus personagens são meio catárticos também, sabe? Eu consigo passar por cima de algumas dores minhas quase terapeuticamente fazendo as minhas personagens. Agora com o Cine Holliúdy tem a Formosa que é muito sonhadora, apaixonada, eu faço ela bastante infantil, então tem a recuperação dessa inocência que eu também acho justa comigo, eu recuperar um pouco da beleza, dos sonhos, da inocência, depois de tudo o que aconteceu. Eu empresto muito da minha vida para as minhas personagens, e eu fico emocionada que eu possa fazer esse movimento, me sinto muito bem de emprestar essas minhas vivências porque nenhuma vivência é única, tem muita gente que vai se identificar, que já passou por isso e tal, e eu aprendo com elas também, cada personagem me ensina muita coisa. 

Como Lorena contou, na série Não Foi Minha Culpa ela teve a oportunidade de trabalhar com a irmã, Bianca Comparato, e a experiência foi muito profunda.

- Foi maravilhoso, mas também muito catártico, porque acho que a gente em um momento em que estamos desmistificando um pouco essa ideia da família perfeita. E eu acho muito linda essa relação com a minha irmã, a gente é muito diferente, somos três na verdade, eu, Bianca e Fabiana, as três muito diferentes e a gente se ama muito, e acho que nas diferenças a gente aprendeu como é o amor uma da outra, porque nós temos formas de nos comunicar diferentes, formas de amar diferentes. A convivência sempre foi muito intensa quando éramos mais novas, e quando ficamos mais velhas eu sinto que a gente foi se reconhecendo. Aí instaurou-se uma amizade nesse reconhecimento que é você estar tão próxima de uma pessoa que é tão íntima, mas tão diferente. Eu sinto que eu cheguei em uma idade agora que é realmente a maturidade. Eu me coloco em um lugar muito de igual para igual com as minhas irmãs, e como caçula, eu sempre fui a mais novinha, mas agora são três mulheres adultas conversando. Trabalhar com ela foi divino, eu sou muito fã da Bianca. Foi a realização de um sonho estar com ela no set, trocar com ela, e a Bianca é bem na dela, mas ela é muito brincalhona e é uma série muito densa, então foram cenas muito difíceis, mas ao mesmo tempo eu me senti acolhida e me diverti muito.

Nascida em Portugal, mas criada no Rio de Janeiro, a atriz disse que nem muita vontade de voltar a morar no país, trabalhando como atriz por lá:

- Eu penso muito. Tenho muito carinho por Portugal, nasci lá e vim para o Brasil aos seis anos. Lembro de muitas coisas com muita saudade e afeto e acabei voltando muitos anos depois pra visitar. A viagem foi emocionante com a minha mãe e fomos na casa em que eu morava em Sintra perto de Lisboa. Chorei a beça. Das últimas vezes que estive em Portugal conheci muitas atrizes e atores portugueses e encontrei brasileiros que vivem lá. Meu desejo de trabalhar lá sempre foi e ainda é gigante. Imagina passar uma temporada fazendo novela em Portugal? Sonho! Seria MUITO emocionante! Mas acho que esse é meu sonho em muitos lugares do mundo. Também gostaria muito de trabalhar nos Estados Unidos, em outros países da Europa, já que falo inglês nativo e espanhol fluente.

Para encerrar, como é a Lorena na vida pessoal?

- A Lorena na vida pessoal é muito engraçada, animada, cheia de opiniões e enrolada também (risos). Eu ia falar que sou fofoqueira, mas como disse Lázaro Ramos: Eu gosto é de saber as histórias não necessariamente de repassar. Realmente a hiperatividade faz parte grande da minha vida então eu tenho muita energia. Sou aquela pessoa que prefere passar em todos os eventos um pouquinho do que perder algum e faço várias coisas ao mesmo tempo. Sou animada e topo tudo! Gosto de conversar, de assistir filmes e séries, de passear. Em questão de filosofia de vida gosto muito do termo artevista. Acho importante defender causas que eu acredito, sempre com arte: ARTE + ATIVISTA.


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Lorena Comparato fala sobre interpretar papéis complexos e reflete: -<i>Eu empresto muito da minha vida para as minhas personagens</i>

Lorena Comparato fala sobre interpretar papéis complexos e reflete: -Eu empresto muito da minha vida para as minhas personagens

16/Abr/

Lorena Comparato tem uma vida para lá de agitada, e não é para menos. Só em 2022 a atriz está em quatro produções diferentes: Impuros e Não Foi Culpa Minha, do Star+, e Rensga Hits e Cine Holliúdy, do Globoplay. Mesmo atarefada, ela conseguiu um tempinho entre uma gravação e outra para falar com o ESTRELANDO

Começamos a conversa falando sobre cabelos - a atriz já usou os mais diferentes tons, cortes e estilos para dar vida a suas personagens.

- Minha assessora fala: Vamos usar aquelas fotos, mas qual, a que você está loira, a que você está ruiva, a que você está com cabelo longo, a que você está com franja. São mil faces. Meu namorado já está acostumado, ele sabe que namora uma pessoa que é mil pessoas e eu amo isso, eu falo para ele: Se prepara, eu quero raspar cabelo, quero fazer de tudo na minha vida.

Com tantas personagens diferentes umas das outras, foi quase um desafio para ela definir qual cabelo foi seu preferido:

- Ai, que difícil. Confesso que quando eu fico ruiva, eu fico muito feliz, acho muito bonito. Mas não sei, eu realmente gosto muito de todos os cabelos que eu tive. Quando eu nasci eu não tinha cabelo nenhum e fiquei assim até os dois anos de idade. Minha mãe grudava lacinho na minha cabeça com sabonete. Então para mim, ter qualquer cabelo é uma grande emoção. Eu sinto que cada hora eu tenho uma coisa boa, por exemplo, a Abigail de Pé na Cova, eu tinha cabelo até a cintura. E eram tictacs que a gente colocava, eu ficava batendo cabelo e era muito gostoso. Na primeira temporada de Impuros eu tinha um cabelo crespo, loiro, até a cintura e de tictac também. Então assim, cabelos que eu mais amei provavelmente são os mais longos e mais cheios, então a Abigail, a Gláucia em Rensga Hits que eu estava com ele ruivo e longo para mim foi realmente o ápice. Se eu fosse escolher um acho que seria o cabelo da Gláucia. Pensando agora, porque eu nunca tinha pensado nisso.

A atriz também brincou sobre apesar de tudo ser para um papel, quando está caracterizada, ela quer acreditar que aquilo é real.

Eu sou uma pessoa que eu gosto de falar desse faz de conta e eu gosto mesmo de expôr, porque eu acho que fica uma cobrança. Eu por exemplo tenho cabelo ralo, aí eu vejo essas mulheres na televisão e eu fico assim: Que cabelo perfeito! Eu tenho uma anedota minha de quando eu era bebêzinha, vendo comercial na televisão, e eu falava: Mãe, eu quero esse shampoo. E era assim: Seu cabelo dez vezes mais longo, dez vezes mais cheio, dez vezes mais volumoso. Aí minha mãe, educadora, linda, falava: Filha, você não pode acreditar em tudo que você vê na televisão. Aí eu olhava para ela e falava: Eu quero acreditar. Então esse faz de conta, eu quero acreditar. Eu acho muito legal que eu vou botar um tictac no cabelo, uma unha falsa e eu quero acreditar que aquilo ali é meu, sabe? 

Para Lorena, esse desejo em acreditar inclusive a ajuda a fazer tudo parecer tão real.

- Eu tenho duas convicções que você vai falar: Lorena, você está doida, são opostas essas convicções. Uma é de que a arte copia a vida e a vida copia a arte, e ao mesmo tempo eu tenho uma convicção que arte e vida são coisas completamente diferentes. Então quando eu estou atuando é mentirinha, é faz de conta. Eu não tenho que me machucar de verdade, mesmo eu me jogando, eu sendo uma pessoa que está ali de verdade. Eu sou uma atriz muito entregue. Essa semana, eu tinha que subir em um telhado, e eu queria subir, oito metros de altura. E as pessoas do trabalho só: Não pode, seguro de vida, segurança. E eu ali: Me leva, eu quero ir. Aí eles fizeram um telhado mais baixinho para eu subir. Ficou pronto e eu já estava lá descalça subindo na telha e eles: Lorena, calma, pelo amor de Deus. E eu: Não, vamos lá, radical. Então como eu sou essa atriz muito entregue, parece que naquele momento eu acredito que aquilo ali é verdade, mas tem um lado muito importante, e até, vou ser bem direta ao ponto, para a minha sanidade, eu tenho que saber que aquilo ali é mentira, e que a minha vida é minha vida, porque eu sinto que quando mistura é que é o grande perigo para o artista às vezes. Não estou falando que quem mistura faz mal, mas sim que quando mistura às vezes seu personagem pode te contaminar demais.

Falando em ter consciência de que o que faz é mentira, Lorena, que é sempre tão entregue ao que faz e adora abraçar personagens mais densas, explica que é realmente necessário um preparo para conseguir separar a atriz da personagem.

- Eu acho muito sagrada a preparação e o pós. No pré sou eu tirando as minhas joias, minha roupa, até roupa de baixo, eu uso o sutiã de uma personagem. Todo esse momento de eu fazer o cabelo, a caracterização, mesmo que não seja nada, eu já fiz muitas personagens que eram sem nada de maquiagem, mas só a troca da roupa já é um ritual para você entrar naquilo. Já o pós sou eu tirando as coisas da personagem e botando minha roupa de volta. Esses rituais para mim são muito importantes para delimitar o que é personagem e o que sou eu. Só que também tem um limite sonoro muito bom, que é o Ação e o Corta. Parece que quando eu boto a roupa do personagem eu entro em um limbo entre eu e ela. Quando vem um Ação, é só personagem. A Lorena está ali, claro, mas parece que desce um negócio, uma coisa bem ritualística. E aí quando vem o Corta eu também paro, só que eu ainda estou no limbo, eu não voltei para a Lorena, só quando eu me desarrumo eu volto para cá. E eu gosto que meus personagens me contaminam, então assim, estou fazendo o Cine Holiudy, aí no meu carro tem um chapeuzinho de cangaceiro, as roupas que eu estou usando são mais coloridas, uns vestidinhos. A Formosa, minha personagem, é muito no chão, então estou usando mais sapatos baixos, e eu sei que as pessoas acham tudo isso que eu estou falando bem loucura, mas eu sinto que me ajuda a compôr. E pode não estar escrito que eu usei vestido florido durante todo o período de gravações, mas eu sinto que o sentimento passa, as vivências passam.

Toda essa construção e lições que a atriz carrega são coisas que ela veio aprendendo ao longo dos anos. Além de trabalhar em filmes e séries, ela também já sentiu um gostinho de como é fazer novela ao atuar em Um Lugar ao Sol. Apesar de terem sido apenas dois episódios, ela sonha em um dia fazer uma novela das nove.

- Nossa é meu sonho. Queria fazer uma dessas personagens que mudam o Brasil, sabe? Uma Carminha da vida, eu acho muito incrível, genial, me vêm várias mulheres na cabeça de personagens muito fortes, tipo Amor de Mãe, quem não acompanhou a história inteira da Regina Casé? Eu acho que são esses lugares que você fica muito atravessada, porque pode não te representar, mas representa uma tia, uma amiga, uma amiga da sua tia, sua mãe, e é muito louco. E eu gosto de personagens que são verticais, que são interessantes. Ela não é só mocinha e nem só vilã. Eu gosto de vilã que você se interessa por ela. Eu gosto de mocinha que tem um quê de maldade também. Porque são pessoas humanas, e a gente é assim, temos coisas ruins também. Então se eu pudesse fazer uma personagem maneira, complexa, eu adoro falar de questões da sociedade, de tudo, de saúde mental a vivências, a dores, dificuldades, denúncias. Mas eu também não posso deixar de dizer personagens engraçados das novelas das nove. A Isis Valverde no início da carreira fez umas piriguetes geniais, umas jovens mais livres que eu acho muito interessantes também. 

E para alcançar seus sonhos, Lorena enxerga que o processo é lento, e nada vem da noite para o dia.

- Eu entendi muito cedo que na minha carreira é um passo de cada vez. É de grão em grão que a galinha enche o papo mesmo. Eu acho lindo a carreira de algumas pessoas que muda da noite para o dia, mas mesmo para essas pessoas, não foi tão da noite para o dia assim. Você pega o Douglas Silva, o DG, com quem eu fiz Samantha da Netflix. Ele é um cara que eu admiro para caramba, fez Cidade de Deus, Cidade dos Homens, ele ganhou uma visibilidade agora com o BBB que não foi da noite para o dia, esse cara está trabalhando desde criança, sabe? Então eu acho que tem uma construção do artista que realmente, se a pessoa quer ser artista, tem que saber que é muito devagar, é literalmente um passo de cada vez e às vezes passo de formiga, mas vai. 

Falando em papéis, personagens e carreira, Lorena conversou com o ESTRELANDO durante o intervalo das gravações da terceira temporada de Cine Holliúdy, e questionada sobre como estão as gravações, ela falou super empolgada:

Ai, muito legais, eu estou muito feliz de estar fazendo Cine Holliúdy, é uma série muito emocionante de estar com a galera do Ceará, a gente foi para Quixadá filmar, ficamos lá um tempo e aí eu pedi para a produção para eu ficar em Fortaleza mais um dia, porque eu realmente precisava passear lá, ver gente, estar um pouco no Ceará mesmo estando muito próxima da galera do Ceará aqui. Foi muito bom para mim olhar, sentir a energia do lugar para ter essa representação. Eu sou do sudeste, então é uma responsabilidade muito grande fazer uma personagem do Ceará, e eu quero fazê-la com respeito, com muita honra, mas muito respeito acima de tudo.

Em seguida, ela foi chamada pela produção para voltar às gravações, mas quis continuar a entrevista mesmo assim e nos levou para dar uma volta de carrinho pelos Estúdios Globo por chamada de vídeo enquanto conversávamos sobre a série. 

- Cine Holliúdy tem uma estrutura muito maneira porque eu comecei fazendo uma participação na primeira temporada. E a minha personagem, a Formosa, filha do Lindoso e da Belinha, feitos pelo Carri Costa e a Solange Teixeira, ela acabou ficando, então esse episódio que eu fiz encantou a galera. Eu fiquei muito contente e honrada disso ter acontecido, de eu ter conquistado esse lugar de certa forma. É muito emocionante para você como atriz e a galera falar: A gente quer você para a próxima temporada toda, e eu estar em todos os episódios. Eu também queria elogiar, porque estou muito emocionada com o elenco, a equipe, todos são muito legais e nessa temporada a Luiza Raz entrou para o elenco, ela é a mocinha, digamos assim, e já chegou com o pé na porta, é uma honra enorme estar trabalhando com ela, temos uma troca muito grande dentro e fora de cena. E estreia agora, em agosto! Vai ser muito gostoso porque vamos estar gravando a terceira temporada e assistindo a segunda na televisão. 

E afinal de contas, em meio a toda a correria de gravações, como arranjar a energia necessária para cumprir com todos os compromissos?

- Todos os meus dias são bastante corridos. Eu gosto muito de aproveitar a vida e de fazer muitas coisas. Acho que isso é da minha personalidade. Tenho muita energia e desde pequena dificuldade para dormir. Perguntava pra minha mãe: Para que dormir? Como sou portadora do transtorno de TDAH a hiperatividade sempre esteve na minha vida. Quero sempre fazer tudo. Faço muitas coisas ao mesmo tempo, mas essa energia toda as vezes cansa então tenho me policiado a tomar tempo pra descansar porque se deixar eu não paro. Hoje vejo a importância do clássico: comer bem, dormir bem e fazer exercício físico, o difícil para mim é ter frequência, mas o pilates online tem me salvado. Cada dia meu é muito diferente do outro e eu gosto disso, mas mesmo quando vivo numa rotina gosto das surpresas de cada dia.

Conciliar a vida profissional com a pessoal também acaba muitas vezes se tornando um grande desafio: 

- É muito difícil conciliar as gravações com os outros compromissos, principalmente pelo fato das gravações não terem horários fixos. Sempre peço paciência das pessoas porque a qualquer hora tudo pode mudar. Eu acabo marcando muita coisa provisoriamente e aceitando que artista não tem hora. Perco eventos, aniversários, encontros, principalmente porque na maioria do tempo trabalho no final de semana: ou gravando ou em cartaz. O que mais me ajuda é ter agenda. Tento me policiar a colocar meus horários e me manter organizada mas a maioria das pessoas a minha volta já sabe que possivelmente eu vou desmarcar ou chegar bastante atrasada.

Também perguntamos para a atriz se ela acha que suas vivências acabam transferindo para as personagens que faz:

- Com certeza. Já começo logo pela Priscila, minha personagem no Não Foi Minha Culpa, ela está ali na pandemia com o Fernando, namorado dela, e ele mostra sinais de agressividade, mas ela sempre com o véu do apaixonamento não consegue ver essa tendência a violência dele, e eu acho que é nesse lugar que a gente tem que se cuidar, essas pessoas precisam de tratamento. Eu transferi muitas dores para a Priscila, acho que meu processo com a direção da série foi muito incrível. A Suzana Lira e o Márcio Schoenardie foram muito cuidadosos, e a maioria das pessoas na equipe serem mulheres foi um lugar também muito legal e delicado para fazermos uma série tão profunda assim. E eu não posso mentir que as companhias no set, Maria da Paixão, minha irmã, Bianca Comparato, o Armando Babaioff, foram companheiros muito grandes que fizeram a gente explorar essas dores muito verticais e não sair de lá tão machucada, mas eu acho que essa série ficou muito comigo. E eu fui direto fazer a Gláucia do Rensga Hits, que é uma personagem que tem muitas dores, eu sinto que meus personagens são meio catárticos também, sabe? Eu consigo passar por cima de algumas dores minhas quase terapeuticamente fazendo as minhas personagens. Agora com o Cine Holliúdy tem a Formosa que é muito sonhadora, apaixonada, eu faço ela bastante infantil, então tem a recuperação dessa inocência que eu também acho justa comigo, eu recuperar um pouco da beleza, dos sonhos, da inocência, depois de tudo o que aconteceu. Eu empresto muito da minha vida para as minhas personagens, e eu fico emocionada que eu possa fazer esse movimento, me sinto muito bem de emprestar essas minhas vivências porque nenhuma vivência é única, tem muita gente que vai se identificar, que já passou por isso e tal, e eu aprendo com elas também, cada personagem me ensina muita coisa. 

Como Lorena contou, na série Não Foi Minha Culpa ela teve a oportunidade de trabalhar com a irmã, Bianca Comparato, e a experiência foi muito profunda.

- Foi maravilhoso, mas também muito catártico, porque acho que a gente em um momento em que estamos desmistificando um pouco essa ideia da família perfeita. E eu acho muito linda essa relação com a minha irmã, a gente é muito diferente, somos três na verdade, eu, Bianca e Fabiana, as três muito diferentes e a gente se ama muito, e acho que nas diferenças a gente aprendeu como é o amor uma da outra, porque nós temos formas de nos comunicar diferentes, formas de amar diferentes. A convivência sempre foi muito intensa quando éramos mais novas, e quando ficamos mais velhas eu sinto que a gente foi se reconhecendo. Aí instaurou-se uma amizade nesse reconhecimento que é você estar tão próxima de uma pessoa que é tão íntima, mas tão diferente. Eu sinto que eu cheguei em uma idade agora que é realmente a maturidade. Eu me coloco em um lugar muito de igual para igual com as minhas irmãs, e como caçula, eu sempre fui a mais novinha, mas agora são três mulheres adultas conversando. Trabalhar com ela foi divino, eu sou muito fã da Bianca. Foi a realização de um sonho estar com ela no set, trocar com ela, e a Bianca é bem na dela, mas ela é muito brincalhona e é uma série muito densa, então foram cenas muito difíceis, mas ao mesmo tempo eu me senti acolhida e me diverti muito.

Nascida em Portugal, mas criada no Rio de Janeiro, a atriz disse que nem muita vontade de voltar a morar no país, trabalhando como atriz por lá:

- Eu penso muito. Tenho muito carinho por Portugal, nasci lá e vim para o Brasil aos seis anos. Lembro de muitas coisas com muita saudade e afeto e acabei voltando muitos anos depois pra visitar. A viagem foi emocionante com a minha mãe e fomos na casa em que eu morava em Sintra perto de Lisboa. Chorei a beça. Das últimas vezes que estive em Portugal conheci muitas atrizes e atores portugueses e encontrei brasileiros que vivem lá. Meu desejo de trabalhar lá sempre foi e ainda é gigante. Imagina passar uma temporada fazendo novela em Portugal? Sonho! Seria MUITO emocionante! Mas acho que esse é meu sonho em muitos lugares do mundo. Também gostaria muito de trabalhar nos Estados Unidos, em outros países da Europa, já que falo inglês nativo e espanhol fluente.

Para encerrar, como é a Lorena na vida pessoal?

- A Lorena na vida pessoal é muito engraçada, animada, cheia de opiniões e enrolada também (risos). Eu ia falar que sou fofoqueira, mas como disse Lázaro Ramos: Eu gosto é de saber as histórias não necessariamente de repassar. Realmente a hiperatividade faz parte grande da minha vida então eu tenho muita energia. Sou aquela pessoa que prefere passar em todos os eventos um pouquinho do que perder algum e faço várias coisas ao mesmo tempo. Sou animada e topo tudo! Gosto de conversar, de assistir filmes e séries, de passear. Em questão de filosofia de vida gosto muito do termo artevista. Acho importante defender causas que eu acredito, sempre com arte: ARTE + ATIVISTA.