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Depois de fazer o maior sucesso no Rio de Janeiro, a peça Dogville chegou em São Paulo e estreia nesta quinta-feira, dia 24. Protagonizada por Mel Lisboa e Fábio Assunção, a peça narra a história de Dogville, uma cidade pequena localizada no topo de uma cadeia montanhosa, onde moram poucas famílias formadas por pessoas inicialmente acolhedoras. A rotina dos moradores muda com a chegada de Grace, uma moça misteriosa que procura abrigo para se esconder de bandidos. Ao decorrer da trama, os cidadãos passam a abusar de Grace de tomas as formas possíveis. Na última quarta-feira, dia 23, após passagem de cena do espetáculo, que o ESTRELANDO acompanhou, Mel, que dá vida à forasteira, comentou em coletiva de imprensa como é interpretar cenas de estupro e qual a reação da plateia ao ver tamanha violência. Veja, a seguir, o que os atores falaram:
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Durante a peça, Grace sofre estupros de muitos homens da cidade. Mel falou sobre as cenas fortes, a reação do público e o sentimento que ela pretende causar com isso: - São muitas violências que acontecem dentro de Dogville, é uma peça extremamente violenta. A Grace é o foco dessa violência, ela sofre inúmeras violências, sejam físicas ou psicológicas, e fica essa questão. Porém, é como eu tenho dito, eu acho que provocar isso na plateia é importante. A partir do momento em que você se vê incomodadíssimo com toda aquela violência, que aquilo te angustia e que você chega no final da peça e fala: 'Caramba!' E o final é catártico da peça, de repente você se sente até aliviado por ela exterminar uma cidade, você fala: 'Que ser humano sou eu?' São muitas questões, sabe? O texto do Larz traz essa questão, ele é muito provocativo, ele vai mesmo na ferida, e ele não mede nenhum esforço para isso, ele vai mesmo, ele verticaliza nessa história.
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Anna Toledo, que interpreta a moça da igreja, como ela mesmo se referiu, complementou a declaração da amiga falando sobre perdão e até onde ele pode, ou não, ir: - É uma das melhores reflexões que a peça propõe, que é: Até onde o perdão engrandece quem está sendo perdoado e até onde o perdão passa a ser um tipo de condescendência, que piora naquele embate entre o pai e a filha, e que ele fala: 'Você tem que botar limite'. Como é aquela fala do cachorro: 'Os cachorros podem aprender muitas coisas úteis, mas não se a gente ficar perdoando toda vez que obedecem à natureza'. Então, a gente não é cachorro, né! Mas a cidade é Dogville, e a condição é essa, até onde você desumaniza quando você deixa pra lá, e até onde o perdão é um ato de amor. Isso é uma questão.
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A peça, que foi dirigida por Zé Henrique com a ajuda de Inês Aranha, ainda possui momentos em que mulheres julgam umas as outras. A preparadora de elenco, Inês, falou sobre o preconceito que as mulheres tem: - Foi um momento muito bom pra gente falar disso, principalmente pra gente entender o tamanho da hipocrisia que a gente tem na nossa sociedade, infelizmente. E que talvez, principalmente, nós mesmas mulheres fazemos isso com a gente muitas vezes. A gente é a primeira a criticar, a condenar o comportamento da outra, e eu acho que nessa peça fica muito claro essa condenação e esse julgamento, e no fundo querer ver a outra por trás. A preparadora ainda faz um alerta, dizendo que Dogville traz uma lição e que esse tipo de comportamento não deve se repetir: - É uma lição para a vida toda, usar isso e não fazer lá fora novamente. Porque a gente continua, de certa forma, fazendo isso com as outras mulheres.
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Fábio ainda comentou sobre o processo de criação dos personagens, que foi feito por toda a equipe em trabalho coletivo: - Foi um processo conduzido no primeiro momento pela Inês, depois pelo Zé, mas compartilhado por todos e por várias frentes, parte física, parte de pesquisa, trabalho de pegar o texto, trabalho de dividir os movimentos e nomear cada movimento e tudo isso. Foram dois meses e meio de coletividade.
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